LabPP UnB: espaço-tempo de experimentações

Metodologias criativas e o Processo Pedagógico do LabPP

Por Carina Flexor e Luciano Mendes

O Laboratório de Publicidade e Propaganda é uma disciplina do 5º semestre da graduação em Comunicação com habilitação em Publicidade e Propaganda da UnB. Com uma carga horária de 16 horas semanais, a disciplina desempenha um papel relevante na formação dos estudantes, permitindo, por meio da articulação entre teoria e prática e do entrelaçamento ensino, pesquisa e extensão, o desenvolvimento de habilidades e competências voltadas para soluções criativas no campo da comunicação publicitária.

Se o exercício da publicidade, por si só, reivindica instrumentos, técnicas e procedimentos metodológicos condizentes com sua práxis, no ensino — especialmente no contexto do LabPP — esse arcabouço teórico-prático se funde com a abordagem pedagógica da própria disciplina.

Apontando para os próximos anos, a disciplina Laboratório de Publicidade e Propaganda passou a incorporar, em seus procedimentos pedagógicos, referências de diferentes autores que abordam bases teórico-práticas relacionadas às chamadas metodologias criativas, viabilizando, assim, a criação da Metodologia Aberta de Projeto do Laboratório de Publicidade e Propaganda da UnB (MAP-LabPP).

Metodologia Aberta de Projeto do Laboratório de Publicidade e Propaganda UnB (MAP-LabPP). Fonte: elaboração dos docentes da disciplina (2022).

A cada semestre, a disciplina elege uma proposta de projeto (o desafio do semestre), priorizando o desenvolvimento de projetos em comunicação e escolhendo, ainda, um tema que atravessa e orienta as atividades do período. O tema selecionado costuma estar relacionado a questões sociais emergentes, que direcionam parte das leituras realizadas ao longo do semestre. Atenta aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas e alinhada com as Diretrizes Curriculares Nacionais da área, no que se refere à formação humanística, a disciplina escolhe temas que contribuam para a formação de profissionais éticos e comprometidos com os desafios da vida contemporânea.

Assim, a partir de uma perspectiva da metodologia ativa de ensino baseada em problema e da aprendizagem baseada em projetos, o modelo proposto contempla uma série de sub-etapas, a depender do projeto/desafio do semestre, se estruturando a partir de 4 (quatro) amplas etapas, a saber:

• IMERSÃO/PESQUISA: destinada à pesquisa e mergulho no tema/objeto de trabalho, fazendo uso de uma série de instrumentos e técnicas de pesquisa. Essa etapa coletiva e exploratória envolve leituras, discussões, aulas teóricas, oficinas específicas e, ainda, palestras com convidados internos e externos à UnB, produzindo uma espécie de briefing criativo do semestre.
• IDEAÇÃO/CONCEPÇÃO: etapa destinada à criação em si, contempla ainda oficinas e palestras com professores/convidados, além de leituras e discussões que se façam necessárias. Destaca-se que algumas estratégias e ferramentas criativas são utilizadas a depender da demanda do projeto, dando ênfase à geração de alternativas de projeto com o objetivo de alcançar a melhor solução/projeto final. Essa etapa desenvolve-se a partir de grupos de trabalho (GTs), viabilizando que cada aluno experimente a prática de distintas linguagens/técnicas/produtos. Essa etapa faz uso, ainda, de um sketchbook coletivo, como agente de persistência do pensamento gráfico tradicional no atual contexto da cultura digital e como ferramenta de registro do processo criativo – aspectos de memória, imaginário e subjetividade –, materialidade fundamental para o assentamento reflexivo e teórico do processo.
• PROTOTIPAÇÃO/ESPECIFICAÇÃO: voltada para o processo de avaliação da solução apresentada ou problema de comunicação, prevendo etapa de ajustes e prototipação do produto e especificações técnicas. 
• DEFESA/MEMORIAL: além do produto final do semestre, a turma entrega ainda, junto à defesa pública do projeto coletivo, um Memorial de Defesa do Projeto, apontando, sobretudo, os aspectos teóricos e metodológicos que o sustentam. Adotando como modelo as diretrizes do Expocom, a documentação de todo o processo projetual conforma-se também como uma estratégia pedagógica da disciplina, uma vez que é utilizada como recurso de avaliação do processo de ensino-aprendizagem na etapa final destinada à avaliação/feedbacks.
• AVALIAÇÃO INDIVIDUAL: os estudantes realizam, ao final do semestre, uma prova individual dissertativa que tem como objetivo principal oportunizar que cada estudante possa exercitar uma escrita que possibilite a reflexão acerca dos projetos desenvolvidos, reconhecendo a articulação teórico-prática da disciplina, resgatando, dessa forma, as leituras/discussões realizadas ao longo do semestre. Como estratégia pedagógica e projetual, esses 4 blocos contemplam sub-etapas de desenvolvimento do projeto – que se conformam a partir da demanda de cada semestre –, que se constituem em avaliações que são tecidas de modo individual, em grupos menores e grupo maior (turma toda). Cada atividade ganha seu direcionamento a partir de instrumentos específicos, assim como critérios de avaliação que priorizam os aspectos processuais. 

Destaca-se, ainda, que o LabPP vem trabalhando, de forma crescente, com a questão da acessibilidade, refletindo sempre sobre os modos de produção de projetos de comunicação acessíveis, contando com a parceria com a Profa. Helena Vigata do Núcleo de Tecnologia Assistiva, Acessibilidade e Inovação (NTAAI) e do Grupo de Pesquisa e Extensão Acesso Livre, do curso de Línguas Estrangeiras Aplicadas ao Multilinguismo e à Sociedade da Informação (LEA-MSI), prevê estratégias de acessibilidade para sua programação.

Priorizando aspectos como experimentação e coletividade, a disciplina Laboratório de Publicidade e Propaganda busca valorizar sempre o protagonismo dos estudantes, aproximando os saberes individuais, buscando incorporar as habilidades e competências – e repertórios – que esses estudantes compartilham, rompendo, assim, com as tradicionais estruturas de sala de aula. A partir da perspectiva da metodologia baseada em problema/projeto, a prática é tecida como meio de promover leituras, pesquisas, discussões, experimentações, resultando em reflexões como modo de sistematizar os conhecimentos trabalhados.

O processo projetual e, sobretudo, pedagógico da disciplina valoriza aspectos da experimentação, do trabalho coletivo e colaborativo, da exploração de linguagens, técnicas e estratégias, assim como a perspectiva do afeto que dá o tom do convívio diário.

Do ponto de vista do desenvolvimento de habilidades e competências dos estudantes, ressalta-se a capacidade de resolver problemas de forma autônoma e, ao mesmo tempo, de forma coletiva, experimentando estratégias criativas próprias do modelo metodológico do LabPP. Ademais, busca-se, ainda, desenvolver habilidades e competências que se referem à exploração de linguagens, à síntese compositiva e conceitual e, ainda, ao uso de ferramentas gráficas e estratégicas. Mais além, a dinâmica da disciplina busca promover a autonomia, a liderança, o trabalho em equipe, desenvolvendo as relações interpessoais que se fazem necessárias para a vida profissional. 

Ressalta-se que como estratégia pedagógica, o processo de desenvolvimento do projeto é documentado, aspecto fundamental para a escrita do memorial/defesa da solução apresentada, como também necessário recurso de avaliação do processo de ensino-aprendizagem, etapa destinada à avaliação/feedbacks da disciplina realizada conjuntamente. 

A disciplina vem implementando – em observância ao Projeto Político Pedagógico e ainda ao disposto na Resolução Nº 7, de 18 de dezembro de 2018, que estabelece as Diretrizes para a Extensão na Educação Superior Brasileira – a inserção curricular da extensão, buscando promover a interação transformadora entre a instituição/curso com outros setores da sociedade por meio da produção e da aplicação do conhecimento, em articulação permanente com o ensino e pesquisa. Nesse contexto, se torna cara a ideia de uma articulação social maior, priorizando discussões e consequentes produções que possam extrapolar a sala de aula e alcançar o tecido social. 

Nessa mesma perspectiva, puxando para si o tripé ensino-extensão-pesquisa, a disciplina, no sentido de viabilizar, sobretudo, a inserção curricular da extensão, também trabalha a dimensão da pesquisa, aproximando as pesquisas desenvolvidas pelos professores, além de explorar métodos e procedimentos metodológicos próprios da pesquisa científica da realidade do estudante em formação.

Por fim, ressalta-se que, alinhada ao contexto da cultura digital, a disciplina mira em uma virada tecnológica que possibilite a formação de sujeitos criativos, éticos e mais alinhados às demandas e desafios do mundo contemporâneo. Nessa perspectiva, tem-se no horizonte, a necessidade de se tecer articulações com outras faculdades/cursos, como a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, cursos da Área de Computação e, claro, com os demais cursos de Comunicação.