[00:00:00]
Locutor: Esse podcast apresenta recursos de acessibilidade. Acesse labpp.unb.br
[00:00:05]
[Vinheta A Publi é Delas com estética de rádio e a palavra Labiar sendo repetida diversas vezes]
[00:00:16]
Laís, entrevistadora: Olá, eu sou Laís Apolinário
[00:00:17]
Evelin, entrevistadora: e eu sou Evelyn Canuto
[00:00:18]
Laís: estudantes do Laboratório de Publicidade e Propaganda de 2024.1 e membros do Comitê de Direitos Humanos do projeto Evento. E esse é o Labiar, o podcast em comemoração aos 20 anos do Laboratório de Publicidade e Propaganda da UnB. Hoje vamos lembrar sobre a presença majoritária de professoras mulheres no Colegiado de Publicidade e Propaganda da FAC, intitulado A Pública Delas.
[Campainha]
[00:00:47]
Evelin: A Publi é Delas, além de ser uma iniciativa do Comitê de Direitos Humanos da turma organizadora do evento, busca dar continuidade ao habitar em um formato diferente. Hoje se juntam a nós para um bate papo as professoras Carina Flexor e Renata Otton, do curso de Publicidade Propaganda UnB para conversarmos sobre a presença majoritariamente feminina dentro do colegiado de publicidade atual e como as próprias professoras enxergam e pensam essa estrutura.
[00:01:15]
Laís: Docente da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília, Doutorado e Mestrado em Arte e Cultura Visual pela Universidade Federal de Goiás. Pós graduação em Arte e Tecnologia pela Universidade de Salvador e graduação em Comunicação com Habilitação em Publicidade e Propaganda pela Universidade Católica de Salvador. Esta é Karina Flecha.
[00:01:37]
Carina, entrevistada: Oi gente! Bom dia! Muito prazer em estar aqui.
[00:01:38]
Evelin: Docente da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília, Doutora em Estudos da Mídia pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, com estágio doutoral na Universidade Nova de Lisboa. Mestre em Estudos da Mídia, jornalista e publicitária. Esta é Renata Otton.
[00:01:55]
Renata, entrevistada: Oi, gente! Bom dia a todo mundo! Muito prazer estar aqui com vocês hoje.
[00:01:59]
Laís: A gente queria agradecer vocês por terem aceito o nosso convite. Vocês são nossos convidados especiais. Nós estamos muito felizes porque vocês estão aqui representando o colegiado de Publicidade. A gente queria que vocês começassem falando um pouco de vocês e do que vocês estão fazendo. A gente trouxe uma base da experiência de vocês, mas o que vocês fazem atualmente, professoras? Falar um pouco das áreas de pesquisa, o que vocês têm focado no momento.
[00:02:27]
Carina: Bom, sobre o desenvolvimento de pesquisa, eu queria compartilhar que a minha pesquisa nasce. Eu tenho duas vertentes. A primeira ela nasce de uma paixão. Eu sempre fui apaixonada por livros. Desde pequenininha eu brinco com livros e essa paixão ela foi crescendo, me levou ainda na adolescência a colecionar livros, principalmente livros infantis, que eu acho que eles são objetos dirigidos para as infâncias, mas que tocam de uma forma muito forte o adulto, sobretudo quem é mãe, né? Porque toca em temas que são muito delicados. Então, já na adolescência, se na infância eu brincava com livros, na adolescência comecei a colecionar.
Eu tenho um acervo bem grande assim mesmo, de livros infantis. E isso de alguma forma me levou para o meu mestrado e meu doutorado. No mestrado eu trabalhei com livros digitais, com um enfoque grande em livros infantis e no doutorado eu trabalhei com uma experiência da leitura em ambiência digital. Então, como é essa passagem da leitura da materialidade analógica, sobretudo o papel, um suporte tradicional do objeto livresco para a ambiência digital? Então, como é que essa experiência de leitura ela se constrói? Só que em algum momento coincidiu com a minha chegada aqui na UnB. Eu vinha da Universidade Federal de Sergipe e lá eu estabeleci algumas relações muito fortes do ponto de vista afetivo. Continuo trabalhando com essas pessoas e desde lá eu já carregava uma pulguinha. Vou chamar assim de vontade de desenvolver alguma pesquisa que eu conseguisse ver uma reverberação social mais efetiva, mais rápida, mais imediata. E aí eu cheguei aqui em 2019.2. Em 2020, a gente deu início ao projeto de educação midiática que o título é ler Transmídia, letramento trans midiático, então, enfim, de alguma forma eu acho que esse caminho da educação midiática me levou a entender, até porque é um tema emergente, A gente sabe, pelas questões contemporâneas. É assim que a gente tem vivido. Que desenvolver esse braço da pesquisa talvez me levasse a uma contribuição social para além das paredes da Universidade de uma forma mais efetiva. Então, hoje eu tenho lidado com as duas pesquisas, a de educação midiática e essa que é a minha paixão de livro e de leitura.
[00:04:49]
Renata: Bom, acho que meu caminho se cruza com o de Caren. E aí, nesse último, essa última linha de pesquisa dela. Desde a minha graduação, eu sempre gostei de estudar temas que de alguma maneira tocassem na comunicação digital. Hoje acaba que é um tema que toca absolutamente tudo, né? Mas na graduação eu lembro de ter analisado a Mídia Ninja, a cobertura jornalística independente, aí a partir de plataformas de mídias sociais do meu mestrado, eu continuei nessas plataformas. Mas olhando um pouquinho mais para influenciadores digitais, um nicho mais específico, que era o nicho da saudabilidade. Então eu tentei entender qual era o relacionamento que essas influenciadoras conseguiam criar com suas seguidoras a partir de um discurso de autoridade delas. E aí, no meu doutorado, eu resolvi mudar um pouco do caminho, ainda me mantendo no caminho da comunicação digital das plataformas de mídias sociais. Mas foi no meu doutorado que eu encontrei a minha paixão de pesquisa, que é estudar as infâncias e suas relações com essas plataformas. Então, com esse contexto de plataforma do que a gente vive hoje e com as práticas de consumo, então hoje meu olhar vai muito para o lado da exploração comercial de crianças e adolescentes nessas plataformas. E aí, desde que eu comecei aqui na UnB, primeiro como substituta e agora recentemente como efetiva, eu encontrei aí o caminho da Caren. E estou também enveredando minha pesquisa para a educação midiática, para o letramento trans midiático não só de crianças, mas também de adolescente. Então é, digamos assim, um bracinho da minha pesquisa de infâncias que eu tenho adotado e tenho me encantado também cada vez mais.
[00:06:38]
Evelin: Acho que a gente percebe vários temas atuais e é muito legal ver que está sendo pauta de pesquisa e que tem gente realmente pensando intencionalmente tudo isso. Então, já que a gente desse para um panorama geral, a gente queria saber de vocês, professores, o que as levaram a escolher a comunicação e a docência como áreas de atuação.
[00:07:05]
Renata: Vamos encurtar o caminho, porque senão a gente passa o dia conversando e eu acho que primeiramente escolhi a comunicação. Para mim não foi uma tarefa fácil, porque na época eu estudei, fiz meu ensino médio numa escola privada tradicional lá em Natal e eu lembro que na época todo mundo enveredava ou pelo caminho da medicina ou pelo caminho do direito. No máximo, ali um ou outro ia para uma engenharia. Mas são cursos mais tradicionais e isso me deixou muito confusa, porque eu não me identificava com nenhum deles e eu acho que escolhi a comunicação. Foi um misto de aspectos assim, de fatores. Primeiro por eu gostar muito da área e sempre gostei de escrever. Não sou muito da parte de artes visuais ou das visualidades de maneira geral, mas me encantava muito pela fotografia, então tinha um pouco desse meu gosto. Eu lembro que quando eu era pequena, minha mãe trabalhava na InterTV Cabugi, que era afiliada da Rede Globo lá de Natal, e ela me levava lá para os corredores da InterTV. E eu lembro que eu ficava deslumbrada com o dia a dia de TV e o meu cunhado na época também era publicitário. Então acabou que eu acho que foi um misto de fatores. Eu fui pegando emprestado um pouquinho da vivência da minha mãe, um pouquinho da vivência do meu cunhado e um pouquinho da minha vivência também. E aí escolhi fazer jornalismo e publicidade. Então não foi só um pézinho na comunicação, não. Foi o corpo inteiro, é a docência. Ela veio no mestrado, na graduação. Eu sempre falo isso para todo mundo, para os meus alunos. Eu me dediquei muito ao mercado, então só queria estagiar, estagiar em agência de publicidade, que é um pensamento relativamente comum entre os alunos da comunicação. E aí, quando eu resolvi fazer mestrado, que a gente passa por atividades de estágio de docência, por pesquisa, eu me encantei e aí eu de fato decidi que eu queria fazer parte da vida dos universitários, do dia a dia dos alunos na sala de aula, trabalhando aí o chão da escola, como a gente fala.
[00:09:12]
Carina: Bom, no meu caso, a escolha pela comunicação eu acho que não foi muito diferente da Renata. Eu estudei na Universidade Católica de Salvador, foi o primeiro curso de publicidade que a gente tinha lá em Salvador. Vou ser bem honesta, sim, eu estava muito perdida e na época eu não tinha nem era vestibular. Então vocês vão dar um pouco de risada. Mas assim eu fiz para a Universidade Católica, eu fiz o campo das ciências sociais, publicidade na federal, eu fui para odontologia e para uma universidade privada que tinha lá para análise de sistemas. Então dá para ver aí o panorama da pessoa perdida. Eu acho que a vida foi muito generosa comigo porque eu era muito imatura e muito perdida. Eu acho que a vida foi muito generosa comigo porque acabou me levando. Eu passei nos três, acabou me levando para o campo que faz sentido para mim. Eu sempre fui aquela e minha mãe dizia que eu ia tomar muita porrada na cara, porque eu sempre fui aquela de brigar pelo direito das pessoas, de ver as pessoas injustas na rua. E eu, de alguma forma, cresci ouvindo que as das pessoas que eu deveria fazer o direito ou comunicação por conta desse jeito. Como eu também sempre fui do campo das artes visuais, da direção de arte e tal, as pessoas também diziam isso. Então eu acho que eu acabei direito, não passou no meu leque, não consigo me enxergar. Eu acho que a vida foi generosa comigo porque eu acabei entrando num curso meio perdida e de alguma forma me encontrando em absoluto. Então, se eu tivesse que escolher novamente, eu escolheria novamente comunicação e eu escolheria novamente publicidade, propaganda, né? Bom, eu acho que a escolha foi um pouco por conta disso, Embora minha mãe e meu pai, eles meu pai já faleceu. Ele era professor da USP e minha mãe professora. Eu era físico, minha mãe ainda viva, aposentada da Universidade Federal da Bahia e ela é do campo da história, da arte, da Faculdade de Artes Visuais. Por que eu estou contando essa história? Porque de alguma forma eu me lembro que na época ela me pressionou um pouco para eu ir para uma federal e tal, e no ano seguinte eu fiz vestibular para Arquitetura, a pessoa perdida. Estou sendo honesta, abrindo o coração. Fiz vestibular para arquitetura, fiz aquele pré teste de observação, passei e fui fazer o vestibular e eram três dias de prova. Fiz o primeiro dia e eu disse: Quer saber de uma coisa? Vou mergulhar de cabeça na comunicação e não fiz. Me arrependo um pouco. Deveria ter seguido arquitetura. Eu acho que a gente que é do campo da direção de arte, arquitetura, de alguma forma, poderia ser um elemento complementar de alguma forma. Eu acho que quando eu entrei para a docência, eu comecei pelo curso de design numa universidade privada que eu trabalhei 16 anos e eu acho que eu brinco que eu me graduei junto com os estudantes. Foi o primeiro curso de Design em Salvador e para ser professor eu tive que estudar muito. Então, embora eu não tenha um diploma, eu acho no meu coração que eu me diploma e junto com os meus alunos, aprendendo um pouco em relação a docência, eu também vou ser bastante honesta. Como eu sou filha de professores e eu sempre vi minha mãe, sobretudo assim, fora do horário que ela estava em sala, ela estava em casa, cercada de 1000 livros, 1000 alunos. Sempre tinha gente lá em casa, ela orientando 1000 correções, sábado e domingo e etc. Eu, infância e adolescência Eu cresci dizendo que eu jamais seria professora. Só que, como vocês falaram, um belo dia eu terminei minha graduação e fui fazer minha pós graduação na universidade privada onde eu trabalhei em Salvador durante 16 anos e fui fazer essa pós graduação lato sensu em Arte e Tecnologia. Um belo dia, um professor chamado Professor Clama Rocha, que é professor da UFG. Ele que era o coordenador do curso. Ele olhou para mim e fez assim Você não quer ser professora do meu curso? Eu olhei para trás porque certamente não era comigo. Aí eu disse eu. Aí ele disse sim e disse: Tá bom, vamos lá. Fui fazer o teste e entrei na minha primeira experiência. Eu já tinha dado aula no Senai e etc. Mas assim, na universidade foi no curso de Educação Artística e depois ele implementou o curso de Design. Bom, apesar da minha fala de ter dito que eu jamais seria professora, eu não seria outra coisa senão professora e não sei. É uma questão de acreditar que é pela educação e acho que isso vincula a gente. A aula é transmídia também na educação midiática. É de acreditar que a transformação social tem que partir da educação. Então, sei lá, eu estabeleço relações muito afetivas com os estudantes. Então eu digo que meus filhos morrem de ciúmes e dizem que eu gosto mais dos alunos do que deles. Aquela crise normal que a gente tem em casa, mas a gente vai estabelecendo parceiros, né?
Eu tenho alunos que foram meus alunos lá em 2020, que a gente ainda se fala. Quando eu vou para Salvador, a gente se encontra. Então acho que é um espaço meio de transformar, de acreditar na transformação. E é um meio também de estabelecer vínculos. Eu e Renata acho que temos esse ponto em de característica comum Para a gente importa Não é o trabalho técnico, mas é o estabelecer de vínculos, relações. Então, acho que não tem lugar melhor para isso do que a docência e a universidade.
[00:14:47]
Renata: Só interrompida aqui rapidinho. Caren, e você falou que sua mãe fez questão que você fizesse universidade pública, né? E eu me identifico muito com isso, porque na época eu escolhi fazer publicidade e era o primeiro ano de publicidade no IFRN e eu fiquei um pouco receosa. Não sabia exatamente como ia ser o curso e acabei fazendo publicidade numa instituição de ensino privada lá de Natal, que já tinha um histórico de sucesso no curso. E aí eu lembro demais que meu pai olhou para mim assim, disse Não, tudo bem você quiser fazer publicidade nessa faculdade, pode fazer o super apoio, mas você vai fazer uma federal também. Então escolhi seu curso na Federal porque você precisa passar por essa experiência. E ele era professor também da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. E hoje eu entendo mais do que nunca, porque ele falou Acho que eu falaria a mesma coisa assim para hoje. Eu estou chorando do jeito que eu falaria a mesma coisa para os meus filhos. Assim, porque de fato, é aqui que a gente consegue colocar os alunos para debater temas relevantes. É aqui que a gente consegue colocar pautas super relevantes para serem debatidas, como essa que a gente está fazendo aqui hoje, né? Então, eu acho que não estou desmerecendo crédito de jeito nenhum de universidades particulares. Acho que cada uma tem o seu espaço, mas tem um carinho muito grande pela universidade pública, pelo serviço público que ela presta e pelas inúmeras oportunidades que a gente cria aqui dentro. Então eu entendo demais o meu pai, eu acho que ele também falei na minha mãe também vou puxar sardinha aqui para o meu pai, porque eu acho que ele também me inspirou a ocupar esse espaço de sala de aula aqui na Universidade. Gente, eu digo para meu filho isso.
[00:16:32]
Laís: Estou aqui me segurando para não chorar horrores. É muito lindo ver essa trajetória de vocês. Eu penso assim, que a comunicação, o jeito que ela encontra os comunicadores, é muito emocionante e sobre os pais de vocês que vocês contaram, eu também fiquei com eles todo cheio de lágrimas aqui, porque eu também sou filha de professora e a história da minha mãe com com os estudos se fez quando ela já era mais velha e ela não desistiu. E ela tinha um desejo no coração de ser professora. E desde que eu sou criança, minha mãe fala dessa vez para um contexto de família mesmo, de de renda, de situação, de vulnerabilidade e. E eu sou muito grata aos meus pais por esse incentivo, sabe? Eles abriram mão de muita coisa para que eu tivesse aqui e desse encontro com a comunicação com a universidade pública e é um olhar diferente. Eu costumo falar com o Gustavo, meu parceiro, que é uma experiência que só quem está aqui entende, porque você não enxerga só uma matéria, você enxerga o mundo com outros olhos. Você tem um olhar crítico social muito diferente para qualquer coisa que você for olhar. E nós somos muito felizes também aqui, como enquanto aluna de vocês, de vocês terem encontrado esse caminho da comunicação e da docência.
[00:17:54]
Evelin: E para a gente ir um pouco para o para a questão do colegiado. E como todas essas histórias pessoais, elas acabam refletindo dentro dessa área de atuação aqui na universidade. E a gente queria saber quais são as discussões atuais mais importantes que vocês enxergam, que está dentro do colegiado e como a presença das professoras de vocês pode impactar isso. Sabe?
[00:18:20]
Renata: Eu acho que eu vou me dar uma de enxerida aqui e vou responder primeiro, mas eu acho que a minha fala, ela tem uma relação mais ampla com a universidade. Assim, eu não vou me direcionar tanto ao colegiado do curso até porque eu estou aqui no NB há pouco mais de um mês, então ainda estou captando algumas dessas pautas. É o espírito mesmo que que e enfim, que caminha por esses corredores. Mas eu acho que ter professoras e não só professoras e colaboradoras, servidoras, alunas nesses espaços de decisão é extremamente importante para que a gente possa pensar em políticas de apoio, em projetos e em ações que contemplem pautas que são muito características das vivências das mulheres. É claro que eu falo muito do meu espaço de fala enquanto mulher e a gente sabe que existem inúmeros outros. Mas se a gente for pegar aí pela interseccionalidade. Mas eu vou dar um exemplo aqui, pensando muito na minha vivência de hoje enquanto mãe. E acho que foi em 2021 que o CNPq, que é o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico do país, ele passou a incluir no Lattes o nosso Currículo Lattes, a possibilidade da gente registrar a licença maternidade. Pode parecer uma coisa assim. A gente é só um registro, só colocar ali no Lattes. Por quê? Mas, gente, isso é tão importante e eu vejo isso na prática. Assim, depois que a gente é mãe e aí eu falo no lugar de mãe, mas eu posso me referir a cuidadora de maneira geral. A nossa produtividade cai muito e não só naqueles 180 dias de licença maternidade cai durante dois a quatro anos, pelo menos. Então, cuidar de uma criança, cuidar de uma pessoa em desenvolvimento demanda muita energia, demanda muito tempo, demanda muita dedicação, muito esforço. Então, de fato, não tem como a gente manter a mesma produtividade de antes, né? E aí eu acho que isso, inclusive, deveria ser trazido para outros espaços além do Lattes. Então, pra concurso público. Então, quando a gente vê prova de títulos que considera os últimos cinco anos, a gente, a pessoa que foi mãe, sei lá, três, quatro anos, ela vai ter uma produtividade muito menor, então ela já sai em desvantagem. Acho que isso deveria ser considerado também para fomento para editais de quando a gente compete, quando a gente vai ali propor algum projeto. Então eu acho que é aí eu trago essa questão da maternidade, mas isso se aplica a diversas outras situações. Então, acho que quando a gente tem mulheres nesses espaços de decisão, a gente consegue de fato pensar nesses contextos que não são pensados por pessoas que não vivem aquilo ali. E aí, além dessa questão da produtividade, da licença maternidade, eu acho que é extremamente importante a gente pensar nas realidades materno parentais, das alunas, das servidoras. Então, se hoje eu digo que trabalhar e cuidar de uma criança já é extremamente difícil, avaliar, trabalhar, cuidar de uma criança e estudar, então é, esses são tipos de pautas, por exemplo, que só são discutidas, são debatidas e levadas como prioridade. Quando a gente tem nesses espaços de decisão quem vive isso, ou que pelo menos consegue enxergar para além da sua própria bolha e pensar nessas ações, nesses projetos que consigam chegar a essas pessoas. Então o objetivo é trazer a mulher para o espaço da universidade, manter a mulher no espaço da universidade. A gente não tem números precisos, mas a gente sabe que um dos motivos de evasão escolar de mulheres é exatamente esse não conseguir dar conta. E aí, mais uma vez eu volto àquele espaço da mulher, aquelas tarefas da mulher em espaços de cuidado, não só como mãe, mas quem cuida dos pais geralmente é a mulher quem cuida dos avós. Geralmente é a mulher quem cuida dos irmãos, geralmente é a mulher. Então, acho que tudo isso precisa ser considerado nessa experiência de ensino de aprendizagem das mulheres como um todo. Então, acho que ter alunas, ter professoras e ter servidoras nesses espaços é um caminho certo para que a gente consiga pensar nessas possibilidades e nessas vivências, com certeza. E aí eu falo pela minha própria experiência aqui. Eu sou mãe agora recente de uma menina de um ano e dois meses. Estou morando em Natal ainda porque eu sou de lá, mas acabei passando no concurso aqui. Ainda estou me organizando para vir para cá de vez, então estou nesse vaivém. E aí essa é uma demanda que eu trago para o colegiado e que eu me senti assim, extremamente acolhida aqui. Graças a Deus passei no concurso, fiquei super apreensiva, mas hoje eu vejo com tranquilidade que os professores, eles me acolhem assim. Gente, vamos chorar juntos e olho para cada abraço da professora.
[00:23:36]
Laís: Isso é muito emocionante, porque na última, no último episódio do podcast, no primeiro, a professora Suellen trouxe essa demanda. Ela falou que quando ela chegou em Brasília, logo que ela chegou, ela engravidou e ela sentiu o peso de se vir a você está grávida, mas você tem que dar conta disso, decidir se você vai ter um bebê. E ela falou que hoje ela consegue trazer para o colegiado com professores. Ela inclusive citou você, professora, Já é um olhar diferente, um olhar empático. De outra forma, fica aqui, a gente se organiza, a gente consegue. Fica tranquila que você precisa resolver, porque ela entende esse lugar. E é muito emocionante ver a união de vocês, tudo isso.
[00:24:17]
Renata: Me sinto extremamente acolhida e eu acho que eu nem preciso estar aqui nas reuniões, em tese, porque essas maravilhosas, essas professoras, elas conseguem ali me representar de uma forma que ninguém mais consegue.
00:24:36:09 – 00:24:47:03
Desconhecido
Então venha para cá, traga sua filha para minha casa, eu tomo conta dela. Fica aqui em casa como a minha salada viva, que foi uma. Então, de fato, são. Isso é uma segurança muito grande. Enquanto eu, enquanto mãe e enquanto profissional, poder equilibrar esses dois lados, porque eu tenho essa rede de apoio, então, enfim. E são pautas, como eu falei, tem que ter mulher para enxergar além do que a gente é, do óbvio, né, do nosso dia a dia.
[00:25:07]
Evelin: Ouvindo vocês, me faz pensar o quanto o colegiado, enquanto espaço físico, aproxima as relações e o quanto o profissional passa a ser pessoal também. E é muito bonito ver as relações de amizade entre os professores, porque a gente que é aluno, a gente tem a nossa vivência enquanto aluno. A gente está ali iniciando junto a vida e vê que a gente tem exemplos de amizades tão fortes quanto a nossa. É muito bonita de verdade.
[00:25:41]
Laís: A gente fica muito na ideia de que é só entre os alunos, mas ver essa cumplicidade de vocês emociona. Eu lembro que quando eu estava fazendo Serviço Social, a gente passou por uma situação onde tinha uma aluna que tinha uma filhinha e a gente se revezava para para ficar brincando com ela lá fora, para que a aluna conseguisse assistir às aulas e ela passou por várias situações, contou várias situações que ela enfrentou com professores, teve professor que exigia que ela trouxesse o caderno para sala de aula e ela estava com carrinho, com bolsa, com uma criança no colo. E a gente estava se revezando para ficar com a filhinha dela. E eu lembrei da situação. Agora eu me emociono muito. É que a Evelyn trouxe que a gente fica nessa ideia de que entre a gente, mas que é maravilhoso saber que enquanto houver mulheres nos espaços, a gente vai ter essa rede de apoio. E se essa compreensão do que é ser mulher é ter outras mulheres nos espaços.
[00:26:50]
Renata: E esses apoios precisam ser institucionalizados, então acho muito legal que vocês se revezaram para cuidar da criança enquanto a colega de vocês assistem a aula. Mas eu também acho que é extremamente necessário, por exemplo, que a universidade ofereça o espaço para que essa criança fique aqui. Então. Enfim, mais uma pauta aí que pode ser levada adiante nessa escola de adultos, nas comissões, nos conselhos.
[00:27:18]
Carina: Me sinto muito contemplada com a fala da Renata. Eu vou pegar o gancho do que você falou aí, Renata trouxe. Como vocês sabem, eu venho de uma outra realidade e na UFES a gente tinha uma política da universidade de apoio às meninas. As mulheres que eram mães, funcionárias, alunas, professoras. Então não foi. Não era raro essa situação que ali sinalizou muitas aulas minhas. Eu estava empurrando o carrinho para a estudante fazer prova. Isso era muito comum e eu confesso que quando eu cheguei na UnB, eu achei estranho que as realidades dessas mulheres e outras pessoas também não pudessem aflorar aqui dentro. Foi uma das coisas que me chamou muita atenção, porque lá era muito comum. Então eu concordo com Renata. Eu acho que a gente precisa ter uma política interna da UnB que dê suporte para que essas mulheres permaneçam estudando nas universidades, seja em nível de graduação ou de pós-graduação nas duas instâncias. Então acho que essa é uma coisa. Renata Eu dei um panorama que eu acho que é excelente do ponto de vista mais amplo da universidade. Eu só dei uma complementada aqui a partir de uma experiência de outra universidade e que eu acho que é possível e necessário. A pergunta lá vai muito para o nosso colegiado. Acho que o caso de Renata é emblemático nisso. E dizer que assim eu acho que hoje, né? Hoje, eu cheguei em 2019, assim como Suellen, e a gente chegou num terreno mais frio, vou chamar assim, Eu não tive a sorte de ser acolhida como Renata e como a Mariana que chegaram agora. Ou mesmo a Beatriz, que veio depois de mim. Chegou um ano ou dois anos depois de mim. Mas hoje eu acho que até que acho que tem uma característica. A gente, eu não sei, tem uma característica de quem é nordestino, que é mais expansivo, mais carinhoso, mais do afeto. Suellen é nordestina, a Renata é nordestina. Sou nordestino no Nordeste, tomando conta no sentido do carinho. Então acho que esse carinho ele foi afrouxando, ele foi contaminando, ele foi alcançando. E eu acho que hoje a gente tem um colegiado afetivo de muito respeito e de muita cumplicidade, de muita parceria. Ou quando um não pode segurar a bola, o outro vai e segura aquilo que um não gosta de fazer, o outro vai lá e pega para fazer, para deixar o parceiro mais tranquilo ou a parceira mais tranquila. Então, acho que essa costura que a gente tem feito, ela é positiva para o projeto pedagógico do curso. Então, assim como vocês perguntam quais são as discussões mais importantes do nosso colegiado hoje, eu acho que é o projeto pedagógico do curso. Em que sentido? Há dois anos atrás, a gente estava batalhando para atender a uma normativa do Ministério da Educação, que era da inserção da regularização da extensão. De lá para cá, o nosso desafio é esse, de como a gente vai atualizar para preparar vocês melhor para esse mundo contemporâneo e aí eu acho que o olhar da gente que é diverso, que a gente vem de realidades muito diferentes de Brasília, realidades que às vezes são muito duras, inclusive, apesar de sermos, claro, pessoas de muito privilégio de ter estudado, ter o que comer durante a infância adolescência, a gente vive numa realidade que mostra para a gente coisas que talvez outras capitais não acabem não mostrando. Então eu acho que esse olhar que a gente carrega da vivência mesmo vai interpenetrar as nossas discussões para constituir esse projeto pedagógico, para que a gente possa formar sujeitos mais críticos, mais éticos, mais cidadãos. A minha expectativa de crença na educação e essa então, acho que é isso.
[00:31:12]
Laís: Nossa, incrível a fala de vocês é muito bom também. A gente está inteirado, tendo consciência do que está acontecendo no colegiado. Agora, eu sei que vocês duas tiveram uma experiência muito grande antes da universidade, principalmente em agência, e a gente queria que vocês trouxessem hoje para o podcast. Se vocês puderem compartilhar alguma experiência que vocês tiveram em um momento. Pela composição da agência e dependendo situações em que você estiver, precisaram se impor enquanto mulheres. Agência Qual foi o caminho que aconteceu e como vocês reagiram a tudo isso?
[00:31:45]
Carina: Eu lembrei de dois casos aqui, mas eu garanto que foram muitos desafios e sobretudo por ser mulher. Vou contar dois um eu de fato, como Renata comentou, eu quando eu me formei, eu também. Aliás, já estudante, eu caí para o mercado, fui trabalhar em várias agências em Salvador e em uma delas eu. Aliás, o caso aconteceu na mesma agência. Eu trabalhava no departamento de criação com direção de arte e eram quatro duplas, só eu de mulher. E tinha o diretor de criação, que era um homem também. Meu primeiro dia de trabalho foi a. Mexeu muito comigo. Por quê? Porque quando eu entrei na sala de criação, que era uma sala bem grande e tinha um aquário como esse aqui, que o diretor de criação ficava sentado olhando para a gente. As paredes pareciam borracharia, pôster de mulher pelada por todos os lados, dentro e em cima do meu teclado. Um monte de fumo de maconha. Era de um diretor de arte que tinha saído e eu ia ocupar o lugar. Eu era mulher e eu era muito jovem, porque eu formei com 24 anos. Eu comecei a trabalhar lá com 23, então não tinha um respeito de ninguém. Então, piadas, brincadeiras comigo, falas comentando sobre mulheres, outras. Foi muito complicado viver nesse ambiente. Me senti desrespeitada, inclusive com meu trabalho de criação. Por inúmeras vezes. O que é que eu fiz? Teve uma situação específica que eu tive que escolher um modelo que ia segurar um neném no colo e na sala de criação num aquário, e a agência ia mandando os modelos e eu ia vê-los sempre escolher quem seria. E o cara chegava lá e tirava a camisa que eu tinha que ver. Só que todo mundo que estava na criação estava vendo o cara tirando a camisa e olhando. E aí eu virei motivo de chacota por conta disso. Brincadeiras de mau gosto, de cunho sexual, coisas dessa natureza. Bom, eu não. Não aguentei. Quando acabou tudo isso, eu fui conversar com o diretor de criação. Ele não deu a mínima importância para mim. A mínima importância. E aí eu fui falar com o dono da agência nesta agência. O dono é um cara bem conhecido do mercado e a filha tem mais ou menos a minha idade. Trabalhava lá. Então eu cheguei no dono, vi a filha como era mulher, para sensibilizá-lo, o que iria acontecer. Então ela me dá suporte, ela me deu esse suporte, eu fui para o dono da agência, a gente conversou. A partir desse momento, os posters saíram da parede, as brincadeiras cessaram comigo porque eu disse: Você não tem que conviver com esse tipo de coisa aqui. Nesse ambiente, era aposta de mulher pelada o tempo todo e as falas eram horrorosas. Então acho que sintetizando, esse foi um caso. O outro caso e que foi anterior a esse eu vinha de uma agência menor que juntou com essa, que é uma agência grande de lá. E a dona dessa antiga agência era uma mulher que eu guardo inclusive um sentimento machucado, porque nessa época eu engravidei do meu primeiro filho, que hoje tem 27 anos e na época quando juntou, eles demitiram pessoas da antiga agência, só que não podiam me demitir porque eu estava grávida. E aí eu me lembro de uma reunião na frente de todo mundo. Essa antiga dona, uma mulher, disse assim Carina, ela é muito competente, Só tem um problema: ela está grávida.
[00:35:54]
Renata: Eu sinto muito, Caren, que você tenha passado por isso. Tem uma coisa que é uma benção, tratada como um problema e ainda mais por uma mulher que deveria ter um outro olhar. Enfim, eu acho que eu acho, não certeza, eu tive mais e mais sorte do que cara em na minha vida eu trabalhei em duas agências. A primeira é uma agência um pouco menor, que tinha um clima muito amigável. Acho que essa era uma das características mais fortes. Assim, era de fato uma equipe muito unida, muito embora a maior parte da criação dos departamentos eram formadas por homens, que é o histórico da publicidade, mas ainda assim, eu senti muito respeito ali, né? Eu lembro que eu acho que um dos episódios um pouco traumatizantes assim para mim foi com uma outra mulher também. Infelizmente foi com uma cliente que eu atendi na época. Então eu era ali do atendimento, era um mercado do ramo imobiliário e a gente estava fazendo uma sessão de fotos para a campanha, que ia ser lançada em X semanas. E aí a gerente de marketing, que era quem representava a empresa com quem eu lidava diretamente, Ela não gostou das fotos e na época eu até dar razão a ela. Ok, entendo, erros acontecem de fato. Não ficou legal, a gente pode repetir, mas eu lembro que ela desligou na minha cara assim. Ela deu um grito e desligou na minha cara. Ninguém nunca desligou o telefone na minha cara. Eu fiquei. Eu devia ter 22 anos, 23 anos. E eu fiquei sem saber o que fazer. Realmente. Eu não sabia se eu ligava para ela, se eu enfim, de alguma maneira ia reclamar ou se eu falava com o diretor. Fiquei paralisada assim, e com certeza ela fez isso por se tratar de uma mulher, porque com certeza absoluta ela não faria o que ela fez. Se fosse um homem alheio ou até uma pessoa com cargo, digamos, de liderança mais alto. Então. E aí eu lembro que na época eu era muito nova ainda, muito imatura. Muitas dessas questões do feminino eu comecei a me atentar mais recentemente. Eu acho que inclusive, depois que eu fui mãe, isso aflorou de uma forma inexplicável. Mas na época eu fui recorrer ao diretor da agência e ele ficou muito chateado, muito, muito chateado. Ligou para ela, falou com ela. Então eu meio que eu também coloquei uma pessoa para falar no meu lugar, então me arrependo um pouco disso hoje. Mas eu também vejo que o meu contexto na época era outro, então acho que essa foi a situação mais estressante que eu passei na agência. Assim com o cliente, não com ninguém diretamente da equipe. Mas isso sim, graças a Deus eu tive muita sorte de trabalhar nessa agência, que era um pouco menor e mais unida e posteriormente a outra agência que eu trabalhei era uma agência maior, mas ela eu vim da agência pequena que se fundiu a essa agência maior. Então, querendo ou não, situações muito parecidas, tive alguns estranhamentos. Mas o espírito que a gente tentava nutrir na agência menor ainda se manteve um pouco nessa maior. Então não tive grandes problemas com relação a isso.
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Laís: A gente também tem conhecimento que a publicidade por muitos anos ofereceu propagandas muito problemáticas e pela composição e composição exatamente das agências, o que saia ali não tinha. Hoje a gente até brinca. Não tem uma pessoa para falar isso aqui não vai passar. E é. Era algo recorrente. Acho que mais ainda na época de vocês a gente encontra ainda assim, propagandas problemáticas, mas que a gente tem uma cobrança muito maior do público também, né? Vai se criando essa consciência coletiva em relação a algumas coisas e eu sinto muito pela situação que vocês passaram e infelizmente é uma situação que a gente vive em qualquer espaço enquanto mulheres. Acho que a Evelyn concorda comigo quando a gente fala que até como estudantes, mesmo grupos de trabalho é uma coisa, a nossa sala, pelo menos agora, é composta por mais mulheres do que homens. E mesmo assim, quando a gente já separou, se deparou com muitas situações parecidas com a de vocês
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Evelin: Então, para a gente finalizar esse tópico e no agora de volta para o colegiado, a gente gostaria de saber quais seriam as iniciativas que vocês acreditam serem necessárias para construir um colegiado mais diversificado.
[00:40:27]
Renata: Bom, eu acho que primeiramente, escutar os estudantes, escutar os alunos, eu acho que isso é extremamente importante. E esses espaços de escuta, eles podem se dar em sala de aula diretamente entre professor e aluno, mas em projetos também como esse. Então, esse é um projeto. Eu até agradeço assim por ter sido convidada a participar, porque ele é muito, muito relevante para a nossa pauta aqui, para a nossa vivência na universidade. E eu acho que a partir de projetos assim que a gente começa como cara e falou do clima do nordestino, que foi que começou a se expandir, acaba conquistando outros professores. Então acho que projetos desse tipo, eles também acabam se expandindo ali de alguma maneira e captando a atenção e captando o espírito também de outros professores, de outros colaboradores. Então, acho que é pensar muito no aluno, no que a gente tem a aprender também com vocês.
[00:41:30]
Laís: Essa fala toca diretamente porque eu estou pensando. Eu não sei se essa é uma cultura da que é muito tempo, se porque o colegiado agora tem essa característica. Mas eu sinto uma aproximação muito grande dos professores, principalmente a professora Karina, que tem esse jeito afetuoso. A gente tem no Brasil. Acho que essa cultura de professor de um lado, alunos do outro e a gente tem tido, principalmente no lab, essa aproximação muito grande com os professores. A gente tem uma aproximação muito interessante também com a professora Dione, que adotou. A gente acolheu e a gente quebra muito essa ideia de separação entre alunos e professores. Ela escuta as necessidades da gente, a gente escuta as dela e cria esse clima realmente de a gente toma conhecimento do contexto de vocês e vocês estão da gente também. Essa aproximação muda o clima da sala. Eu sou muito feliz aluna Carina Inclusive a gente compartilha muitas coisas, muitas coisas para além da sala de aula. E eu acho que a gente está tendo essa oportunidade agora é bom. A gente cria coragem para fazer essas coisas acontecerem, chamar o professor e conhecer até um pouco mais da história de vocês e vocês da nossa.
[00:42:51]
Carina: Tentando responder, eu acho que eu vou pegar o gancho da Renata e expandir para dois pontos. Eu acho que é esse o caminho. Acho que o que vocês fazem aqui, que é montar num laboratório um comitê de Direitos humanos, a gente não pediu isso, foram vocês que criaram isso. Na verdade, para trabalhar todos esses aspectos, não só a pauta do feminino, mas outras questões que são de relevo social. Então, acho que quando a gente cria espaços para que vocês tragam para sala de aula aquilo que é importante, que faz parte da cultura de vocês, da vivência de vocês, As coisas começam a ganhar sentido. Aí a gente pode recuperar um pouco uma coisa que eu acredito demais, mais demais demais. Mas eu tento colocar isso que eu acredito na prática, com toda a força, que é o que Paulo Freire sempre disse para a educação que não existe educação sem afeto. Então a Evelyn até comentou a vocês aproximam essa coisa do que é pessoal, do trabalho. Gente, eu acho que essa normativa de que alguém um dia lá atrás separou e disse para você ser profissional, você tem que deixar seu lado pessoal fora. Eu nunca acreditei nisso, porque eu acho que o que a minha contribuição profissional, ela vem da minha vivência pessoal, do sujeito que eu sou. Então eu tenho que mostrar quem eu sou. E eu não tenho vergonha. Eu tenho um monte de defeito, mas eu tenho outras características também. Isso faz essa pessoa do dar carinho mesmo, grudenta, enfim. Então, tentando responder um pouquinho mais, primeiro elogiar a iniciativa de vocês, Acho que a gente precisa abrir cada vez mais espaços para isso. E vou destacar dois pontos. Eu acho que para que o nosso curso seja cada vez mais diverso, além disso que a Renata falou e a gente tentar fazer valer uma lei de cotas para concurso, então a gente tem que buscar isso enquanto colegiado. A gente precisa ter esse compromisso, pensar nos concursos públicos nessa perspectiva. E a outra coisa que é uma coisa que quem foi meu aluno e vocês já ouviram, é assim, eu aprendi ao longo da minha vida. Eu acredito nisso piamente, de que todo mundo que está aqui, funcionários, professores, alunos, todos nós somos igualmente responsáveis pela construção do nosso curso, da nossa universidade. Então eu não sei. Assim, eu acho que a gente devia pensar em também como vocês, estudantes, ajudam a gente a criar esse espaço mais diverso. E eu acho que esse grupo em particular que está aqui na minha frente, cumpre um pouco desse papel de querer questionar esses jovens o tempo todo na sala de aula. Isso vai e volta e de alguma forma se alimenta, se materializa nesse comitê de Direitos humanos. Então, acho que do ponto de vista pedagógico, a gente precisa pensar que essas questões sociais, na sua amplitude de aí, não é só a dimensão do feminino. Em todas as suas interseccionalidade, precisam atravessar todas as disciplinas de modo transversal. Porque eu tô querendo dizer é que eu acho que não tem que ter uma ou outra disciplina. Eu acho que a questão social deve atravessar todas de criação a marketing. Tudo. Por que? Porque aí a gente vai fazer com que os estudantes que cheguem aqui também queiram brigar por. Como é que a gente transforma esse curso num curso mais social, mais diverso e etc.
[00:46:15]
Laís: Para contextualizar um pouco os nossos ouvintes, essa conversa, essa parte é muito interessante porque tudo na real começou com uma roda de conversa. Eu, Evelyn, professor Luciano, professora Beatriz e ali a gente entrou em pautas onde a gente já estava ali já ardendo. Falamos sobre um monte de coisa e eu questionei o professor Luciano e a professora Beatriz sobre a presença de professores negros. Realmente, no curso de publicidade falei sobre. A gente é muito acolhido, principalmente pela professora Dione, por essa questão, onde ela se identificou com a gente. A gente se identificou, ela adotou a gente, a gente se sente acolhido. Faz uma diferença muito grande ter professores negros ali. E a gente começou com um e já foi se estendendo para outras conversas todos os dias. Ana Clara Também durante a aula, que faz parte de nosso podcast, também falou sobre a presença. De profissionais, mesmo que representem a comunidade LGBT, o movimento negro, mulheres que estejam presentes no nosso evento do lab dos 20 anos e não como um recorte, não como até aqui para falar sobre diversidade, mas pessoas que estão aqui para falar sobre suas pesquisas. A gente não tem como desvincular nossa vivência disso, mas trazer com riqueza, com clareza tudo que a gente tem enfrentado, principalmente no campo da comunicação, para compor esses espaços, é uma conquista muito grande ter majoritariamente mulheres aqui neste espaço, no espaço da sala de aula. A gente não para por aqui, né? A gente tem muita coisa para conquistar ainda, mas já estamos no caminho para ir para a nossa última pergunta aqui do podcast. A gente gostaria que vocês trouxessem, trouxessem algum recado para as gerações futuras, para as alunas, principalmente publicitárias, que estão se formando, para as que estão entrando na universidade, um recado que vocês gostariam de deixar para elas.
[00:48:24]
Renata: Acho que eu vou falar primeiro porque, cara, é sempre inspiradora, então vou deixar ela para fechar com chave de ouro aqui. Estou tentando pensar no meu eu quando entrei na universidade, assim. E eu era outra pessoa, outra pessoa. Acho que meu conselho seria para essas alunas aproveitarem e usarem esse espaço enquanto um espaço de aprendizado não só da tecnicidade, não só ali do que é fazer publicidade, mas usassem esse espaço para aprender do que é ser, o que é ser humano, o que é ser mulher, o que é ser uma mulher preta, o que é ser uma mulher lésbica, enfim, e por aí vai. Na vida como um todo, acho que eu falo muito bem disso, da gente. Não tem como separar o nosso profissional, do nosso pessoal, do que a gente faz com os nossos afetos. Então acho que eu diria para esses alunos para também não fazerem isso aqui enquanto alunos. Então as vivências de cada aluna fora dessa da porta aqui da universidade, ela é tão importante, são tão importantes quanto as vivências daqui de dentro. Então acho que quando a gente consegue unir esses dois lados sem esse medo de estou me mostrando vulnerável, estou mostrando minha fragilidade, estou mostrando um defeito. Então acho que quando a gente consegue fazer isso de fato, a nossa experiência, a nossa vivência, o nosso aprendizado é muito mais potente, porque nós somos o que somos, pelas nossas vivências, pelos pelos, nossos relacionamentos, pelo que a gente acredita. Então, eu acho que minha dica principal é essa sim. É não deixar esse lado pessoal de fora, traz ele para dentro também, porque é isso que inclusive nos torna seres mais empáticos e isso que inclusive nos torna seres mais interessantes também. Então acho que é isso, é aproveitar esses projetos e aproveitar os professores e professoras que se colocam ali disponíveis para conversas fora e dentro de sala de aula e aproveitar essa segunda casa, que para muita gente é a primeira casa e tudo o que ela traz assim com ela é de sala de aula, de fora, de sala de aula, de corredores, de projetos de pesquisa, de ensino, de extensão. Então, acho que seria isso, pensar a publicidade também a partir de um ponto de vista pessoal. O que é que a publicidade mostra enquanto sociedade, enquanto cultura, enquanto política? E como é que isso se relaciona diretamente com você? Eu acho que seria mais ou menos isso.
[00:51:21]
Carina: Eu acho que dá para finalizar com a fala da Renata, porque eu acho que ela me contempla. Vou trazer dois pontos. Eu acho que a natureza feminina, como Renata já destacou várias vezes, é do cuidar, né? A gente cuida de filhos, cuida dos pais, cuida das pessoas. Aqui no entorno. Então acho que eu deixaria duas mensagens para as novas estudantes. Uma é que quando ela entrar na universidade, as realidades das colegas são muito diferentes. Então que o espaço de sala de aula, essa aluna também se comprometa em cuidar do colega, em apoiar aquele que está com dificuldade, aquele que não sabe se colocar, aquele que está faltando. A gente, na prática, a gente tem tentado construir no laboratório. Tem vários exemplos que eu não vou citar aqui, mas assim, eu acho que como eu já vi isso acontecendo, eu acho que eu deixaria isso. Lembre que o espaço de convivência da universidade também é um espaço do cuidar, porque o outro muitas vezes não mostra o que está por trás, mas às vezes esse outro tem uma série de dificuldades de diversas naturezas. E eu acho que a gente constrói melhor quando a gente constrói junto. Então, acho que a primeira coisa é o cuidar. E a outra coisa é que assim, a vida, a gente não é fácil. Então a universidade, ela também, ela é espelho, reflexo da vida da gente. Não, não são só flores que a gente vai encontrar. Então, o carinho que eu deixo para as novas estudantes é pensar que toda vez que a dureza bater na porta, a dificuldade, aquela vontade de chorar, aquela vontade ou aquele estresse de ter que virar a noite dando conta das coisas. Pensar que tudo com a leveza e com carinho vai melhor. Então que esse afeto esteja dentro da universidade e em tudo o que essas estudantes vierem a fazer aqui.
[00:53:10]
Evelin: Com essas mensagens inspiradoras, a gente encerra o nosso segundo episódio de A Publi é Delas. Muito obrigado pela entrevista, professores. Renata e Karina. Foi um prazer recebê-las e Labiar chega ao fim. E se você gostou, não deixe de compartilhar esse conteúdo nas suas redes. Marcar a gente @labpp-unb e claro, participar do Colab, evento comemorativo dos 20 anos do Laboratório de Publicidade e Propaganda da Faculdade de Comunicação da UnB, nos dias 30 e 31 de outubro e 1 de novembro, na própria FAC você encontra a programação completa no nosso Instagram.
[00:53:47]
Laís: O episódio foi gravado no laboratório de áudio da Faculdade de Comunicação da UnB no dia 14 de agosto de 2024. O roteiro foi elaborado por Ana Clara Alves, Evelyn Canuto e Laís Apolinário, com edição de Laís Apolinário.
[00:54:14]
[Vinheta de jazz animada com efeitos de rádio no final]
Locutor: Laboratório de Publicidade e Propaganda. Criatividade em todos os sentidos.