[00:00:00:00]
Locutor: Esse podcast apresenta recursos de acessibilidade. Acesse labpp.unb.br
[00:00:02]
[Vinheta A Publi é Delas com estética de rádio e a palavra Labiar sendo repetida diversas vezes]
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Laís, apresentadora: Olá, eu sou Laís Apolinário
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Evelin, entrevistadora: E eu sou Evelyn Canuto
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Laís: estudantes do Laboratório de Publicidade e Propaganda de 2024.1 e membros do Comitê de Direitos Humanos do projeto Evento. E esse é o Labiar, o podcast em comemoração aos 20 anos do Laboratório de Publicidade e Propaganda da UnB.
Hoje vamos lembrar sobre a presença majoritária de professoras mulheres no Colegiado de Publicidade e Propaganda da FAC, intitulado A Pública Delas.
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Evelin: A Publi é Delas, além de ser uma iniciativa do Comitê de Direitos Humanos da turma organizadora do evento, busca dar continuidade ao LAB em formato diferente. Hoje se juntam a nós para um bate papo sobre a história do colegiado as professoras Suelen Valente e Mariana Ferreira do curso de Publicidade e Propaganda UnB
[00:01:08]
Laís: Docente da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília, Doutora em Comunicação pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade de Brasília. Mestre em Comunicação pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Estadual Paulista. Graduada em Publicidade e Propaganda, tendo atuado como redatora publicitária e revisora em agências de publicidade. Esta é Suelen Valente.
[00:01:30]
Suelen, entrevistada: Oi meninas, É um prazer estar aqui com vocês. Muito obrigada pelo convite e já quero antecipadamente parabenizar vocês pela iniciativa, por esse trabalho tão bacana que vocês estão desenvolvendo no lab.
[00:01:40]
Evelin: Muito obrigada, professora. Docente da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília. Doutora em Comunicação pela Universidade Estadual Paulista, Júlio de Mesquita Filho, Mestre em Comunicação pela Universidade Estadual de Londrina. Possui graduação em Comunicação Social, Habilitação em Jornalismo pela Universidade Federal de Viçosa e Especialização em Comunicação Popular e Comunitária na Universidade Estadual de Londrina. Esta é Mariana Ferrer.
[00:02:08]
Mariana, entrevistada: Olá Laís, Evelyn, Suelen, muito feliz de estar aqui com vocês e poder fazer parte também desse evento de 20 anos do LAB. Parabéns pela iniciativa de vocês e de toda a turma.
[00:02:20]
Evelin: Obrigado professora.
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Laís: Reforçamos que admiramos o trabalho de vocês, por isso que vocês estão aqui hoje. Muito obrigada por terem aceitado. Para começar o nosso podcast, a gente gostaria que vocês se apresentassem, falassem um pouco de vocês sobre o trabalho atual e as suas áreas de pesquisas.
[00:02:38]
Suelen: Bom, Evelyn, Laís, eu sou Suelen, como vocês já apresentaram, eu sou professora aqui da FAC UnB, do curso de Publicidade Propaganda. Estava até compartilhando com vocês antes que estou muito feliz que agora sim, a um mês atrás completei dez anos aqui na UnB, né? Assim, uma conquista muito importante na minha vida, um passo muito importante na minha carreira e bom, eu sou formada em Publicidade, sou a tradicional publicitária que trabalhava em agências de publicidade, escrevia roteiros na época do cronômetro no pescoço e aí, assim, eu digo, eu gosto de contar isso para os meus alunos de introdução à publicidade, quando eu estava administrando essa disciplina, que assim foram as inquietações, estudando publicidade quando eu estagiava, quando eu comecei a trabalhar em agência, que, num futuro próximo, ali, logo depois que eu me graduei, me levaram para a academia para fazer mestrado. Eu comecei a questionar muito do fazer publicitário enquanto eu estava estudando, enquanto eu estava trabalhando em agência. E aí eu fui sanar essas inquietações, pesquisando e fazendo pesquisa, que foi quando eu decidi fazer mestrado em Comunicação em Bauru, na Unesp, e logo em seguida já emendei com o doutorado, também em Comunicação. E desde então eu tenho desenvolvido pesquisas acima do doutorado. Eu estudei a regulamentação da publicidade brasileira e aí eu fui estudar especificamente a atuação de algumas organizações da sociedade civil e como elas conseguiam impactar mudanças relevantes nesse cenário de regulamentação. Tive atuações, contribuições importantes aqui dentro da FAC, que me trouxeram para esse objeto de pesquisa, para esse tema de pesquisa. Professor Paulino foi uma peça muito importante no meu caminho acadêmico aqui na Universidade de Brasília. E é isso. Nesse cenário do doutorado, eu conheci instituições com as quais eu reconheci muito das inquietações que eu trazia, como, por exemplo, o Instituto Alana com o projeto Criança e Consumo. E ali eu comecei a enxergar um cenário que para mim, assim, abriu os meus olhos diante de coisas que estavam acontecendo na sociedade e que tinha gente muito organizada por trás tentando fazer diferente, impactar o mercado diante de organizações também muito fortes, como o Conar, o Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária. Então essas organizações enfrentavam, questionavam e juntas conseguiam, ali, num trabalho de formiguinha, trazer impactos importantes para esse sistema de regulação. Então, assim, um pouquinho do que eu pesquisei no doutorado e que com certeza reverberou aí num cenário futuro, no que eu venho desenvolvendo. Mas a gente pode conversar isso em outro momento
[00:05:36]
Evelin: Super bacana, é um tema super atual ainda.
[00:05:39]
Suelen: Com certeza.
[00:05:43]
Mariana: Bom, sou Mariana, eu sou a caloura aqui entre os professores do curso de publicidade, acabei de chegar, mas já estou no DAP acho que desde 2019, então é muito interessante acompanhar um pouco essas mudanças e agora está nessa outra situação. Vou puxar um pouquinho do que a Suelen falou sobre a inquietação. Eu venho de uma formação em jornalismo numa época que a gente tinha, na verdade, comunicação social com habilitação em jornalismo. E eu lembro que eu comecei o curso querendo ser correspondente internacional, correspondente de guerra e aí eu terminei o curso já não sabendo mais se eu queria jornalismo. Então foi muito interessante esse processo todo, porque eu fui me enxergando muito na comunicação e essa inquietação em entender como a comunicação atravessa tantas questões da nossa sociedade, como ela vem transformando a cultura. E isso foi quando eu fui para o mercado de trabalho, fui para assessoria de comunicação e aí eu fui tentando me entender e fui estudar um pouco de cinema. E aí quando eu caí na comunicação popular e comunitária, especificamente quando eu comecei a trabalhar com comunicação e educação, já em 2008, fiz primeiras oficinas em escolas e aí eu fui entendendo muito o que me motivava, que era justamente pensar o que significa a gente trazer essa questão da cidadania comunicativa, pensando numa educação midiática, na educomunicação, eu brinco que desde então eu trago a palavra da educação midiática para todos os espaços em que eu atuo. Então foi uma coisa que eu levei para a especialização no mestrado, no doutorado e sempre buscando entender como a gente consegue pensar a formação de sujeitos mais críticos, mais participativos, que pensa nessa criatividade, na capacidade expressiva, justamente entendendo a centralidade que a comunicação como um todo ocupa na sociedade. E a gente vê isso como um direito, um direito à comunicação, direito à educação midiática nesse âmbito da cidadania comunicativa. Então é muito por esse espaço que eu transito e por todas essas transversalidades. Então a gente fala do letramento midiático publicitário, a pensar essa questão mesmo da regulamentação que a Suelen trouxe e em como a gente vai articulando tudo isso justamente para pensar o que é ser cidadão que quer ser cidadão hoje. Eu acho que reforça isso muito também no nosso papel como formadores de futuros profissionais de comunicação. Eu acho que acaba também recaindo nessa responsabilidade.
[00:08:27]
Laís: Muito bom, professora. A gente conversa bastante lá no laboratório sobre a ideia que as pessoas têm da comunicação, principalmente dentro da publicidade, não entendendo o impacto que tem a publicidade no imaginário coletivo da sociedade e as ramificações da comunicação. Como isso atravessa uma geração inteira e habitus em pensamentos e essa construção.
[00:08:53]
Evelin: E aí eu queria saber de vocês também, professoras, se essas inquietações também foram as responsáveis por levarem vocês para carreira de docência. Assim como foi esse processo?
[00:09:04]
Suelen: É assim, eu acho essa pergunta maravilhosa, porque, eu não sei se a Mari sente isso, mas eu gosto sempre de falar porque eu sou professora, sabe? E primeiro tem um. Tem um motivo muito pessoal, né? Tem uma história de família que é exemplo dentro de casa. Os meus pais são professores também da Federal do Maranhão, acabaram de se aposentar, tem menos de um ano. Então assim, eu digo que eu cresci dentro da Universidade Federal do Maranhão, indo pra lá com os meus pais, igual trouxe minha filha hoje. Acompanhar alguma coisa porque não podia ficar em casa ou enfim, ajudar a corrigir alguma coisa quando eu estava maiorzinha. Então tem uma inspiração pessoal nesse sentido, de enxergar na docência, porque eu conseguia ver de fato dentro de casa como os meus pais transformavam a vida dos alunos deles, mesmo em outra área, completamente diferente. Mas a atuação deles de fato era transformadora. Isso ali não fazia sentido pra mim, mas futuramente, quando eu olhei, eu falei gente, como isso é maravilhoso, Que poder que eles têm nas mãos! E a carreira de docente veio acho que muito nessa inspiração, mas porque eu escolhi a formação em publicidade, fui fazer Comunicação social, publicidade e propaganda, mas não estava me realizando ali. E aí essa realização de fato aconteceu quando eu testei na sala de aula, quando eu entrei numa sala de aula, ali eu me senti plenamente realizada. Eu falei “é isso que eu quero para o resto da minha vida, eu quero essa troca, eu quero esse impacto na vida dos meus estudantes. Eu quero plantar essa sementinha de que a gente pode fazer uma comunicação diferente”. Então é meio, parece meio clichê isso que eu estou falando, mas realmente eu tô compartilhando com vocês uma coisa muito pessoal, que é o sentimento que me move todo dia pra entrar nessa aula em qualquer disciplina. É esse poder transformador que eu acho que a gente pode ter na vida dos nossos estudantes.
[00:10:53]
Evelin: Que bonito, professora.
[00:10:56]
Laís: Eu acho que a gente sente isso professora na sala de aula, pode ter certeza.
[00:11:01]
Suelen: Fico feliz.
[00:11:02]
Mariana: Bom, da minha parte, eu acho que eu endosso muito que a Suelen traz, porque eu acho que isso é até muito assunto da minha terapia. Eu brinco que ser professora não é a única versão Mariana que existe, mas é talvez uma das versões mais fortes. Aí já olhei o roteiro, já. Quando veio essa, essa vontade de ser professora? Desde pequena, brincar de ser professora. Minha irmã mais nova ali, sempre cobaia. Mas assim, sempre tive um pouco, trouxe isso, eu acho que faz muito parte da personalidade. E no último ano da faculdade, já na época de orientação, o meu orientador me falou: “Mariana, você tem muito jeito para pesquisa, tem muito jeito para docência. E foi assim, foi bem isso que a Suelen traduz. O primeiro momento que eu entrei numa sala de aula e eu entendi o meu lugar no mundo, esse meu lugar onde a gente consegue fazer essa diferença, onde a gente consegue somar. E tem uma coisa que é muito incrível da sala de aula, é a possibilidade da gente se colocar como um eterno aprender. Não nessa função do professor, a professora ali na autoridade, mas com uma possibilidade muito grande de troca. Nenhuma disciplina vai ser você estar ali, enfim, com aquela disciplina anos, mas nenhuma turma é igual a outra. O contexto muda, principalmente. A gente pensa em comunicação, as turmas mudam, então você tem a troca, cada um com a sua percepção. Acho que dá uma noção bem do que Paulo Freire fala do nosso inacabamento. Então a gente se entender como ser humano inacabado, que está sempre à procura de mais. Eu acho que isso me motiva muito de estar em sala de aula, é onde eu me sinto viva, assim, muito energizada, É muita paixão, é muito difícil também. Eu acho que a gente não pode romantizar, tem as suas dificuldades.
A gente acabou de voltar de uma greve que eu acho que diz muito sobre isso, sobre a situação da universidade pública, sobre a questão da docência. Então há lutas, mas é nisso que você falou, sabe, Há uma motivação e um lugar assim de estar e poder provocar essa transformação e entender o quanto a gente é transformado e também o tanto que a gente é impactado por essas trocas.
[00:13:22]
Evelin: Com certeza, professora.
[00:13:25]
Laís: Então, depois dessa trajetória toda, o caminho de vocês com a comunicação, desde criança trabalhando a docência dentro de si, a gente queria que vocês explicassem um pouco, primeiro você, professora Suelen, o colegiado. O que que é o colegiado aqui na universidade, a importância dele e como ele funciona, como ele tem que ser desenvolvido, que é o papo central que a gente está trazendo aqui hoje. A ocupação das mulheres dentro do colegiado.
[00:13:52]
Suelen: Que forte isso, né, meninas? A ocupação das mulheres no colegiado começa daí. É, assim, quando a gente fala em colegiado formalmente, a gente tem o curso de publicidade aqui na UnB, aqui na FAC e ele está dentro de um departamento com outro curso, que é o audiovisual. E aí a gente tem o DAP e esse é o colegiado formal, mais o curso de publicidade, ele tem, assim como todos os cursos aqui da FAC, ele tem um núcleo docente estruturante, né, que aí é o espaço pedagógico em que o curso de publicidade tem os seus representantes, tem o seu regulamento, quais são os professores que estão ali, mas ele tem os seus representantes que estão ali com a responsabilidade de discutir pedagogicamente o curso, de tomar as decisões pedagógicas, avaliar as disciplinas, ementas, planos e conteúdos e tudo que diz respeito à questão pedagógica do curso. Ela é discutida e, em alguma medida, referendada ali. Mas qualquer decisão em relação ao curso de publicidade precisa ser validada na sua instância formal, que é o colegiado DAP. E ali, no DAP, a gente aprova as decisões pedagógicas que foram discutidas, ponderadas, construídas dentro desse núcleo menor do curso de publicidade e acima do DAP, aqui na FAC, que a gente tem o Conselho da Faculdade, que é onde todos os cursos vão se reunir. Então ali vão estar presentes representantes do curso de Publicidade, representantes do curso Jornalismo, representantes do curso de Comorg e de Audiovisual. Então, assim, na FAC a gente tem todas as instâncias. Ainda teria o colegiado, os cursos de graduação, mas enfim, há muita coisa que para a gente. Mas assim, a importância do colegiado quando a gente pensa no núcleo do curso de publicidade é a gente entender que tem um coletivo de professores e professoras que são responsáveis por tomar as decisões em relação. Ao ensino dos nossos estudantes, ao ensino, pesquisa e extensão do curso de publicidade. Então, eu acho que é uma responsabilidade muito grande, né? E a gente tem um histórico aí. Assim, como eu falei, eu tô há dez anos e eu já pude ver muitas mudanças acontecendo e eu tenho certeza que é por conta dessas mudanças que vocês estão trazendo isso como pauta aqui, desse trabalho, desse projeto tão lindo do laboratório. Mudanças que a gente não pode fechar os olhos, como por exemplo a gente tem num curso tão pequeno, né? Eu acho que essa é uma observação importante. O curso de publicidade é o menor curso quantitativo de professores da Faculdade de Comunicação. Nós atualmente, Mari, me ajude, Mas nós somos dez, né? Nós temos duas professoras de licença no momento, mas nós somos dez professores junto com as colegas que estão de licença. Então nós somos um núcleo reduzido de docentes e que atualmente a gente teve uma renovação importante desse quadro, né? Não, de forma alguma desmerecendo, muito pelo contrário, validando, referendando, um histórico maravilhoso construído pelos nossos pares, professores, assim, que tem uma história. Primordial na construção do curso de Publicidade, como o professor Wagner Rizzo, a professora Selma, uma mulher potente que deixou um legado aqui em termos de laboratório de publicidade e propaganda, então, nem se fala. Professor Edmundo que acabou de se aposentar assim ontem, há poucas semanas, um mês, no máximo. Então a gente tem uma história muito bonita, construída por colegas que se aposentaram nos últimos anos no curso de publicidade. Mas a gente tem uma história muito linda que está sendo construída agora, né? Com colegas, como a Mariana, que acabaram de chegar, a professora Renata Otton, é uma renovação de uma história para continuar e dar os novos passos diante de uma sociedade, de uma comunicação, de uma publicidade que mudou muito e que continua em processo de mutação. O tempo todo. E que nos desafia e que nos traz uma responsabilidade gigantesca, meninas, não é à toa que vocês estão aqui discutindo isso. A nossa responsabilidade como publicitários e nós como professores em formar publicitários para uma sociedade que veio historicamente construindo uma publicidade machista, cheia de problemas e que a gente tem que fazer diferente. Então, hoje, quando eu olho para um colegiado de publicidade que é majoritariamente formado por mulheres, né? É bonito de ver, é esperançoso, né. E nos dá margem para enxergar um cenário que já mudou, mas que ainda tem muito a ser feito. E a gente está aqui para fazer e para estimular vocês a fazer.
[00:19:08]
Evelin: Eu acho que essa pauta que a gente traz, acho muito porque concretiza aquilo que a gente fala das mulheres, tomando espaços de decisão e ocupando lugares de decisão que impacta as outras esferas e que a gente via historicamente sendo ocupado, majoritariamente por homens, e agora a gente está vendo essa transformação. E aí, professora Mariana, Eu queria saber de você como a mais nova integrante do colegiado, o que você pensa, como você enxerga ele? O que você… Quais são as principais diferenças que você via antes de entrar, agora que você está mais dentro? Como está sendo isso?
[00:19:46]
Mariana: Bom, primeiro acho que com grandes poderes vem grandes responsabilidades, né?A gente… Eu às vezes me pego um pouco ainda, caindo a grande ficha de que, enfim, você faz parte de parte desse quadro efetivo. Primeiro, pela responsabilidade de estar falando de um curso que tem 53 anos. Então tem uma história, como a Suelen falou, com professores que deixaram sua marca, seu legado, também com estudantes que passaram aqui. Uma responsabilidade quando a gente pensa nesse papel da comunicação e da publicidade na sociedade hoje e é muito interessante, porque, nesse sentido, acho que a gente tem uma acolhida. Eu acho que talvez seja essa energia feminina do acolhimento, da sensibilidade, dentro do curso e também na construção de um horizonte comum. Qual é a publicidade que a gente quer? Qual é o curso de publicidade que a gente quer e como que a gente pode construir? Então, acho que isso tem sido colocado muito em pauta e acho que a grande diferença é justamente poder, tanto contribuir efetivamente para esse curso, para essa formação, para esse projeto de curso que está sempre em construção e revisão, em poder também trabalhar de uma maneira colaborativa. Eu acho que isso é uma questão muito interessante do curso aqui de publicidade, então a abertura para muitos trabalhos. Então, Suelen, estamos juntas com outros professores aqui, por exemplo, no projeto Ler Transmídia, então a gente está sempre buscando, criando e nesse sentido colaborativo. Acho que pegando um pouco essa ideia mesmo de inteligência coletiva, o que cada um traz com a sua experiência, com as suas vivências, com as suas pesquisas? Ninguém, assim, o olhar de cada um é muito único. E eu acho que a valorização desse olhar único e a compreensão de que isso é soma e não é divisão. Acho que é uma coisa muito interessante, porque a academia tende muito a compartimentalizar as coisas, colocar tudo muito em caixinha. Então é legal a gente pensar fora da caixa, pensar juntos. Então acho que é um grande diferencial e poder construir os nossos espaços e que esses espaços conjuntos, os nossos espaços de pesquisa. Então acho que isso tem sido muito, muito interessante, muito recompensador também.
[00:22:09]
Laís: A gente teve essa noção a pouco tempo sobre a formação do colegiado. A gente discute muito sobre esse impacto, a diferença, porque além de professoras, também, vocês são mães, vocês têm sua casa, mas vocês não deixam de ser pesquisadoras e de estarem fazendo presença aqui. E isso inspira muita gente porque a gente sabe que, muitas vezes, um espaço que seja majoritariamente composto por homens, mulheres são invalidadas o tempo inteiro. Como assim você precisa deixar seu filho? Você precisa ter uma jornada dupla? E a pesquisadora vai sendo desvalorizada. E não, agora a gente está com mulheres que entendem o contexto de mulheres e que as chances de você ouvir uma piada, uma piada machista e você sendo deixada de lado num trabalho são menores, porque são mulheres ali como professoras que trabalham em coletivo. Compreensão da realidade e deixa mais forte, traz esse exemplo. E a FAC que só vem crescendo. No ano passado, o curso de publicidade recebeu nota cinco, um avanço muito grande e com mulheres na liderança, mulheres à frente, mulheres que trouxeram isso para dentro do curso de publicidade. É uma coisa que a gente trouxe para destacar também. A gente queria entender, além do colegiado, do trabalho de vocês aqui, a perspectiva do mercado de trabalho das mulheres aqui em Brasília, porque a gente sabe que vocês não são daqui, professora Suelen, professora Mariana, vocês vêm de outro estado. Gostaria que vocês falassem um pouco do estado de vocês. E a gente vê também que nos cursos de publicidade, a gente tem uma perspectiva muito do Estado do Rio de Janeiro, de São Paulo e a gente está aqui em Brasília com um trabalho diferente, um contexto diferente que cada estado mostra e eu gostaria que vocês também dissessem um pouco disso.
[00:24:14]
Suelen: Assim, meninas, que felicidade, né? Ver que vocês estão tão atentas a tantas questões importantes que se trouxe a questão aí, Laís, só recuperando rapidinho a coisa da maternidade. Assim. E falando em termos de colegiado, vou voltar rapidinho, que é pensando assim, nesse histórico. Quando eu cheguei e a gente estava conversando antes da nossa gravação aqui na E eu fui logo, eu fui mãe lá no primeiro ano, assim. E eu vejo hoje um cenário completamente diferente, em que a gente acolhe essa maternidade de verdade de uma maneira diferente. Com que assim, sem queixas mais assim, pensando que Que bom que as coisas mudaram. Que bom que o tempo passou e que a gente pode acolher as professoras mães com esse olhar, né? Mais atento, mais cuidadoso que quem dá aula, quem trabalha, quem é publicitário são pessoas. E essas pessoas, no caso da nossa conversa, são mulheres, né? E enfim, isso traz toda uma carga que a gente não precisa discutir aqui, mas que é importante, necessária. É da gente estar atento e trazer para as nossas responsabilidades. Enquanto o colegiado que acolhe e percebe todas estas camadas assim. Então, que bom meninas que vocês tocaram nesse assunto sobre mercado, mercado em Brasília, Brasília. Quando a gente pensa em publicidade, ela tem as suas peculiaridades, que a gente está falando de um cenário de serviço público nas contas públicas, majoritariamente. Eu não tive a oportunidade. Quando eu cheguei em Brasília, eu já enveredei para a vida acadêmica lá. E aí, pensando do ponto de vista da universidade, eu vou falar desse lugar. Talvez traga outra perspectiva, né? Eu senti isso que eu acabei de compartilhar com vocês no início da minha dessa minha resposta que é pensar que a universidade nunca teve nada a não ser agora, muito recentemente. Esse olhar cuidadoso, acolhedor para as mães, para as mulheres que são mães, por exemplo. Então, hoje a gente, recentemente, junto com a Mari, recebemos a professora Renata Othon, que está com o que acabou de ter, que tem essa pequena Sophia, que é uma bebê. Então a gente acolhe com essa perspectiva de que ela, além de professora, ela é uma mãe de uma criança pequena e que deve ser recebida exatamente da forma como ela é, entende? Então, assim, durante muito tempo em Brasília, eu não senti essa perspectiva do acolhimento em relação à maternidade. Por exemplo, se vira nos 30. Se você é mãe, problema seu. Você tem cinco disciplinas, você tem seis disciplinas. Você tem que ter tal carga horária, você tem que estar no colegiado. Você tem que dar conta da pesquisa, da extensão e de tanto é problema seu, não foi você que escolheu isso, então, obviamente ninguém nunca me disse isso, mas as atitudes foram durante muito tempo nessa perspectiva. Então eu olho para o mercado lá dentro da academia, muito sob esse olhar de que bom, que bom que as coisas estão mudando, né? E a gente ainda precisa mudar muito mais. Acho que eu trago um pouquinho esse olhar barra desabafo.
[00:27:43]
Mariana: E eu acho que completando também esse pensamento da Suelen, essa vivência a gente vivencia tanto na academia quanto fora da academia. A gente sabe que são espaços machistas. E aí, junto com o machismo, a gente fala de assédio, a gente fala do silenciamento, a gente fala de situações em que a gente se vê, inclusive usurpada das nossas próprias ideias, das nossas próprias, enfim, indagações. Aquilo que a gente tenta construir. Então eu eu vejo assim que pensar a partir do feminino na desse e desse lugar, da mulher no mercado, é um movimento muito importante de trabalhar juntas, de estar juntas, de realmente olhar para o lado e ver que você não está sozinha. Então, acho que no mercado como um todo, isso tem sido colocado sim como pauta e a possibilidade também de abrir espaços para que a gente possa falar e que a gente não tenha medo de falar, não tenha medo de se colocar. Então acho que isso é uma questão muito, muito importante aqui fora daqui. Então eu vejo pelas minhas amigas que que estão em outras áreas, eu vejo as que estão aqui na academia, que a gente vê muito isso, né? Então acho que quando eu falei também da acolhida, vai muito nesse sentido, né? Da gente saber que a gente não está sozinho, que é um grupo de mulheres, um grupo de mulheres que se fortalece, que honra a caminhada de outras pessoas e também a gente entende que por mais que a gente comemore hoje ter esse esse espaço predominantemente feminino e também eu acho que a gente possa destacar muito aberto a nos ouvir. Então, assim, os professores homens que também estão ali, eu acho que ao exercício e a uma intencionalidade de ouvir, de validar, de trabalhar junto, que é muito importante, mas também não pode esquecer que há muitas conquistas ainda nesse sentido a serem feitas. Então, mais mulheres, mais mulheres negras, mais mulheres indígenas, mais mulheres trans. Então, a gente pensar nessa diversidade e a gente falar também de pesquisadoras, mulheres de pensadoras, mulheres no campo da comunicação, no campo da publicidade. As nossas referências ainda são muito masculinas e são muitas. E a gente vive esse reflexo dessa sociedade patriarcal. Então, enfim, eu acho que isso também é um ponto importante da gente colocar e falando assim nessas questões de mercado, vocês colocar a gente não, não, não é daqui de Brasília, Eu sou de São Paulo, mas a minha vivência veio muito do Paraná. E o que eu percebo também vem aí. Acho que a possibilidade muito desse trabalho coletivo e do empreendimento, acho que a força do empreendimento feminino é muito forte nesse trabalho de colaboração, de propor soluções, de inventar e de vai desde pensar. A pesquisa de mercado desde os modelos de negócio até as propostas. Então eu acho que essa ação feminina conjunta tem sido muito potente no que eu observo. E isso também no campo da comunicação, até para reinventar formas e abrir outras possibilidades, muitas vezes justamente por conta que a gente vê mulheres que são mães e que às vezes não conseguem ocupar um espaço no mercado de trabalho. A gente cria nosso espaço no mercado de trabalho, a gente vê muito, muito isso. Então acho que que vem muito dessas possibilidades.
E olhando para Brasília, que é o que eu atuei fora da docência, foram em projetos na área da interface entre comunicação e saúde. Então foi muito interessante durante a pandemia, poder pensar a comunicação, a comunicação de risco. Assim, as estratégias para mobilização social e o que eu vejo também não só para mulheres, mas também a possibilidade de a gente pensar as interfaces. Se a gente fala da centralidade da comunicação, da centralidade da publicidade, a gente pensar também quais diálogos são interessantes e são importantes de serem feitos. Então, na área da saúde, onde eu hoje vivenciei principalmente da vigilância em saúde, mas em outras áreas, então eu acho que Brasília traz muitas oportunidades, principalmente não só por conta do setor público, mas também pela sociedade civil organizada, que também de alguma maneira tem aqui o seu. Os seus pontos de ação acabam também sendo uma possibilidade interessante para o mercado.
[00:32:32]
Laís: Só para contextualizar os nossos ouvintes, professora Suelen, você falou o local de onde você veio para cá?
[00:32:39]
Suelen: Ah, sim, claro, Eu sou de São Luís, Maranhão, né? Então lá foi a minha formação em publicidade Propaganda e lá eu atuei em algumas agências de publicidade antes de partir para minha vida acadêmica, digamos assim, né? E ai de São Luís, eu fui para Bauru, em São Paulo, fazer mestrado e de Bauru, em São Paulo. Vim para Brasília fazer o doutorado e aqui permaneci e construí a minha vida desde então, desde mais ou menos ali 2007, 2008, por aí tá.
[00:33:08]
Evelin: E eu acho que esse tópico do mercado eu acho que é o que liga tantos professores com os alunos, porque acho que é uma visão que a gente na graduação, a gente fica imaginando qual vai ser, qual vai ser o nosso trabalho assim, qual o lugar que a gente vai conseguir conquistar. E quando a gente olha Brasília assim, eu acho que vem muito no nosso imaginário essa questão das organizações públicas governamentais, muitas vezes pode ser o foco de alguns alunos, mas podem ser. Pode não ser o foco de outros e outros querem se enveredar pelos setores privados e etc. Então, acho que é muito legal trazer essa perspectiva de quem já está há mais tempo, né? E aproveitando também esse clima de esperança e futuro, a gente queria que vocês pudessem dar um recado para as gerações que estão vindo aqui com as turmas posteriores que o ouvir escutar esse podcast, as pessoas que nos acompanham e que têm interesse pela área, mas que ainda não entraram. Então eu queria que vocês deixassem recado.
[00:34:08]
Suelen: Que bacana! Só complementando, quando vocês perguntaram de onde eu sou? Ai quando a gente pensa, quando eu penso vocês me provocaram a pensar no mercado lá nessa época, quando eu trabalhava lá no Maranhão, no Nordeste, trabalhei em três agências lá. E aí dentro da nossa temática, eu penso que eu lembro que as agências eram todas os proprietários. Eram homens, né? Elas eram majoritariamente ocupadas por publicitários, né? E sobretudo, na área de criação, eu sempre, todas as agências em que eu trabalhei, eu era a única mulher que estava na criação e e situações de assédio, situações de silenciamento, situações em que a ideia soa, mas outra pessoa leva o louro ali daquilo que você criou. Então, tudo isso fez parte desse cenário ali, de quando eu iniciei minha carreira na publicidade lá, enfim, na minha cidade. Bom recado para as gerações futuras lá e momento do coração aqui no nosso podcast mais assim. Ai meninas, primeiro feliz demais vocês nos provocarem nessa proporção aqui nesse papo tão gostoso dizer para vocês que quando eu penso nas gerações futuras eu penso assim, que a gente tem muito a fazer. Quando a gente pensa na perspectiva das mulheres e aí já trazendo, recuperando o que a Mari falou dessa questão da diversidade de então, assim que essas gerações estejam atentas a toda essa problemática que a gente ainda precisa lidar, enfrentar, né? Quando a gente pensa em publicidade. Que a gente se apoie, né? Assim não é publicidade, mas sim, de forma geral, Que as meninas, que as mulheres dessas gerações se apoiem, olhem umas para as outras e estejam juntas para o que ainda há de ser feito, né? Que a gente acredite. Eu gosto muito de falar isso em sala de aula, mas é o que verdadeiramente eu acredito no poder de transformação da publicidade. E que a gente ajude a tirar a publicidade desse lugar que historicamente foi dado e que ela ocupou de fato um lugar que só está ligado ao consumo e ao consumismo, né? E a gente ocupa muito espaço na vida das pessoas. A gente faz parte da cultura da nossa sociedade, então tem tanta coisa bacana a ser feita e eu quero deixar esse recado para os nossos futuros publicitários e os nossos estudantes que acreditem nessa publicidade transformadora e que as meninas estejam juntas nessa transformação.
[00:36:46]
Mariana: O que dizer depois? Bom, eu acho que eu vou focar o meu recadinho do coração para as publicitárias, para as comunicólogos e no sentido de que a gente possa, daqui a alguns anos, a gente estando aqui nessa felling. Espero que a gente possa vê-las e reconhecê-las para que haja uma validação. Sabe, eu acho que quando a gente é mulher, a gente comemora muito pouco as nossas conquistas.
A gente está sempre ali, lutando, lutando, lutando. Então é uma luta para entrar na faculdade, é uma luta para permanecer na faculdade, é uma luta em cada disciplina. Enfim, eu acho que eu gostaria muito que essas futuras estudantes elas pudessem validar as suas conquistas e se verem como merecedoras, Que elas possam se apoiar, que elas possam sim estar juntas. Eu acho que nesse sentido também superar a ideia de uma competitividade e que juntas a gente possa repensar a comunicação, a publicidade, que a gente possa se lembrar sempre do nosso compromisso social enquanto profissionais de comunicação, enquanto publicitária. Mas enfim, eu acho que isso tem uma ação transformadora e potente, muito, muito grande. Então eu gostaria de poder ver isso, sabe? Nas turmas e a gente na verdade tem visto. Eu acho que a turma de vocês é o exemplo disso. A gente olha e isso dá um gás para a gente também aqui do outro lado. Então que vocês possam, né, que elas possam trazer pautas, que elas possam trazer indagações, inquietações, que isso seja acolhido, que isso reverbere e que a gente tenha um novo curso, com novas possibilidades, porque tudo se transforma.
Então a gente também precisa pensar nessas transformações aqui internas.
[00:38:56]
Laís: Nós queremos agradecer a presença de vocês. Queria falar aqui dá um quentinho no coração muito grande, porque a gente sonhou esse novos episódios do podcast. Se a gente está aqui num Brasil com a fala de vocês e assim como alunas, a perspectiva de alguns a gente observa. A professora falou que, tímida, a gente percebeu algumas coisas, mas uma coisa que a gente percebeu muito foi a felicidade das outras professoras. Com a chegada da professora Mariana e da professora Renata como professoras afetivas, passaram, falam com muito orgulho, enchem a boca para falar na sala de aula para falar dessa conquista. E isso inspira a gente. Nós alunos. A Montessori. A gente sabe que publicidade tem esse ar de competitividade, né? E a gente está aqui para trazer novas pautas. Então, vendo mulheres lá na frente, a gente achou importante trazer para o conhecimento dos outros alunos, das outras pessoas, da comunidade, a presença de vocês aqui. Porque aí a gente. Esse impacto traz novos projetos de TCC, novas apresentações, novos debates, coisas que muitos por muitos anos foram ignoradas e a gente traz. Eu, como aluna, publicidade, comunicação, uma regra eu trago, tento trazer isso e me sinto muito apoiada pelas professoras, sabe? De que tem muita coisa mudando. E é isso aí, continua. Vamos lá e a gente vê isso muito em vocês. Então, queria muito agradecer a presença de vocês todos esses 30 fala de vocês completamente inspiradora.
[00:40:28{
Evelin: A gente tinha uma expectativa planejando e essas foram totalmente superadas na nossa conversa e a gente sai daqui recarregado para a gente continuar produzindo outros episódios que vão ao ar jajá em breve. E acho que é isso. Muito obrigada, professoras Suelen e Mariana. A gente se encontra pelos corredores e a gente fica muito ansioso com todo esse projeto do lab, todo esse evento de comemoração dos 20 anos. É engraçado fazer esse paralelo inédito dessa toda essa história de 20 anos atrás com os 20 anos para frente. E acho que é isso.Muito obrigado.
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Laís: Quer esse chamado A Publi é Delas delas que sentado na mesa agora publi a nossa lá br chega ao fim. E se você gostou, não deixe de compartilhar esse conteúdo nas suas redes e marcar a gente. Arroba lab p underline ou NB Para participar do Colab, evento comemorativo dos 20 anos do Laboratório de Publicidade e Propaganda da Faculdade de Comunicação da Uniban, nos dias 30, 31 de outubro 0 de novembro, A própria FACT você encontra a programação completa no nosso Instagram.
[00:41:32]
Evelin: O episódio foi gravado no laboratório de áudio da Faculdade de Comunicação da Unimep, no dia 9 de agosto de 2024. O roteiro foi elaborado por Ana Clara Alves, Evelyn Canuto e Laís Apolinário, com edição de Laís Apolinário.
[00:41:59]
[Vinheta de jazz animada com efeitos de rádio no final]
Locutor: Laboratório de Publicidade e Propaganda. Criatividade em todos os sentidos.