[00:00:00 – 00:34:05]
Locutor: Esse podcast apresenta recursos de acessibilidade. Acesse labpp.unb.br.
[Vinheta A Publi é Delas com estética de rádio e a palavra Labiar sendo repetida diversas vezes]
Ana Clara, entrevistadora: Olá, eu sou Ana Clara Sampaio
Evelyn Canuto, entrevistadora: Eu sou Evelyn Canuto.
Ana Clara: Estudantes do Laboratório de Publicidade e Propaganda de 2024.1 e membros do Comitê de Direitos Humanos do projeto Evento. Esse é o Labiar, o podcast em comemoração aos 20 anos do Laboratório de Publicidade e Propaganda da UnB.
[00:34:07 – 00:46:18]
Ana Clara: Hoje vamos labiar sobre a presença majoritária de professoras mulheres do colegiado de publicidade propaganda da FAC, intitulado A Publi é Delas.
[Campainha]
[00:46:20 – 01:11:04]
Evelyn Canuto: A Publi é Delas, além de ser uma iniciativa do Comitê de Direitos Humanos da turma organizadora do evento, busca dar continuidade ao LAB em um formato diferente. Hoje se junta a nós para um bate papo a professora Priscila Borges, do Departamento de Audiovisual e Publicidade Propaganda da FAC/UnB, para conversarmos sobre a presença majoritariamente feminina dentro do colegiado de publicidade atual e como as próprias professoras enxergam e pensam essa estrutura.
[01:11:06 – 01:39:00]
Evelyn Canuto: Professora da Universidade de Brasília, onde atua na graduação em Comunicação e Publicidade e Propaganda no Programa de Pós-Graduação em Metafísica e Programa de Pós-Graduação em Comunicação. Doutora em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Mestre em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Bacharel em Comunicação Social pela Universidade de Brasília. Esta é Priscila Borges.
[01:39:02 – 02:25:10]
Priscila Borges, entrevistada: Obrigada, gente! Prazer estar aqui com vocês.
Muito obrigada por ter aceitado nosso convite, professora. É um prazer ter você aqui com a gente para conversar.
Professora, então, para começar, o nosso podcast é a gente gostaria que você fizesse sua apresentação pra gente escutar, para a gente se conhecer um pouco de você.
Priscila Borges: Bom, eu sou Priscila, uma mulher pequena, magra, cabelos castanhos curtos há muitos anos, cacheados, olhos castanhos, um tom moreno claro visto uma blusa preta gola V, uma calça verde e um sapato de bicho, assim como imitando um bicho.
[02:25:12 – 02:53:18]
Priscila Borges: Acho que é importante fazer audiodescrição e mandar mais que a gente está aqui no podcast, no áudio eu pesquiso a semiótica, a filosofia e o pensamento de Peirce, pois foi um filósofo norte americano e eu me aproximei da semiótica no início da minha carreira, interessada em entender os sentidos e os significados, ou seja, o funcionamento da linguagem visual. Depois da minha graduação na UnB,
[02:54:06 – 03:02:18]
Priscila Borges: Eu fui para o programa de pós graduação especializado em Comunicação e Semiótica, que era o único do país, esse na PUC São Paulo.
[03:02:20 – 03:27:22]
Priscila Borges: Fui lá para fazer mestrado e lá eu conheci minha orientadora, a Lúcia Santaella, e fiquei para o doutorado. A linguagem visual e a semiótica de Peirce andaram juntas durante a minha formação como pesquisadora. No mestrado, a semiótica me ajudou a responder problemas relativos à linguagem visual. No doutorado, foi a linguagem visual que me ajudou a responder um problema da semiótica.
[03:27:24 – 03:53:01]
Priscila Borges: Desde então, a minha pesquisa foi se tornando cada vez mais teórica, envolvendo questões filosóficas e metodológicas exclusivas da semiótica. Acho que se explica um pouco por que eu fui parar na disciplina de Metodologia, que é essa disciplina de pré projeto e hoje eu estou no programa de pós graduação, tanto um programa na filosofia que é esse de metafísica, quanto aqui na comunicação.
[03:53:03 – 04:28:03]
Priscila Borges: E embora nunca tenha abandonado a linguagem visual, inclusive na docência, essa é uma área que foi perdendo espaço na minha, nos meus interesses de pesquisa. Foi ficando cada vez mais interessado na teoria e o Pierce é um autor que deixou poucas coisas publicadas e inúmeras, centenas, milhares de páginas de manuscritos. Então tem muito trabalho a ser feito com o texto na forma de manuscrito.
[04:28:05 – 04:54:19]
Priscila Borges: E o texto em manuscrito, é um texto que demanda um super trabalho em manuscritos e em arquivos e tem muitas questões a serem respondidas, ainda na semiótica, como eu acabei me aprofundando mais a teoria, comecei a ver muitos, muitos problemas que poderiam ter sobre os quais eu poderia me debruçar e contribuir mais na área.
Para a gente entender um pouco mais sobre você e sobre sua história.
[04:54:23 – 05:26:00]
Ana Clara: A gente também queria saber o que levou você a escolher a comunicação e a docência como áreas de atuação.
Priscila Borges: Olha, eu escolhi a comunicação e a publicidade por ter interesses em processos de criação e representação visual. Tanto que quando toda a minha formação e minha experiência de mercado foi na área de Direção de Arte, então foi encaminhando para saber da criação e era o que me interessava desde que eu da escolha para vir para cá.
[05:26:02 – 05:38:17]
Priscila Borges: As outras possibilidades de curso todas eram relacionadas com essas duas áreas. Eu acabei indo para docência porque eu não suportei o mercado de publicidade.
[05:38:19 – 06:07:11]
Priscila Borges: Talvez de um outro falando de um outro modo, eu percebi que não havia espaço no mercado de publicidade para as minhas questões, que desde então elas não eram de ordem prática ou mercadológica. Elas eram questões que eu só conseguia responder e ter tempo para pensar sobre elas na academia. Foi isso que me levou ao mestrado. E aí, a partir daí, eu entendi que a minha carreira ia ser uma carreira docente.
[06:07:11 – 06:37:06]
Evelyn Canuto: Muito interessante ver os extremos. E acho que é isso que leva a gente tomar decisões nessa vida e poder adentrar novos espaços. Entrando agora no tema do nosso podcast, que é o Colegiado e a gente tem o objetivo desse podcast realmente exaltar a presença majoritariamente feminina dentro dele. E aí eu gostaria de te perguntar como você percebe as mudanças nas tomadas de decisões, tendo em vista que a gente tem essa estrutura atual?
[06:37:08 – 07:06:17]
Evelyn Canuto: E se você percebe, quais são essas diferenças?
Priscila Borges: Olha o colegiado do DAP eu não sei, nem sei se ele é majoritariamente feminino, porque como juntam professores de vários cursos, na verdade tem professores que estão no DAP, mas esses oferecem disciplinas do jornalismo, essa é uma coisa interessante da formação da própria Universidade de Brasília,
[07:06:19 – 07:40:03]
Priscila Borges: A gente não tem uma correspondência entre os colegiados de administração e os então departamentos com a formação dos alunos. Quer dizer, o curso. Tanto que vocês têm no curso de vocês um número que não é tão grande, de disciplinas obrigatórias e um número ainda menor de disciplinas obrigatórias que são específicas da publicidade e um número enorme de disciplinas optativas que vocês precisam cursar em qualquer lugar da universidade.
[07:40:05 – 08:09:04]
Priscila Borges: E acho que isso é a riqueza do curso de publicidade. Então eu não consigo ver nenhum impacto direto a formação, o fato de a gente ter mais professoras específicas no curso, nas vagas que são exclusivas da publicidade, acho que, dado esse contexto do currículo de vocês, vocês vão ter experiências com um número que é imponderável para a gente de professores.
[08:09:04 – 08:53:07]
Priscila Borges: E se eles são de que gênero eles são, a gente não tem como controlar isso. Então acho que isso não sei se se esse é um fator que impacta talvez outros fatores sociais, impacta mais. E tampouco eu vejo essa diferença nos colegiados, porque os colegiados também são compostos de pessoas de outros. Então a gente nunca não tem exatamente um lugar aqui na faculdade em que esse colegiado específico que tem mais mulheres, que é o da publicidade, quer dizer, o corpo docente específico de publicidade, ele não tem um lugar de tomada de decisão sozinho, porque ele está envolvido numa estrutura e uma estrutura que é muito mais plural do que do que é essa.
[08:53:07 – 09:17:05]
Priscila Borges: O que também acho que no fim é positivo, porque não vejo a publicidade como um possível dizer sobre a publicidade sem falar sobre comunicação. Não acho que é possível desvincular essas duas coisas, por isso acho super importante que vocês tenham e que o currículo seja esse currículo que envolve a experiência com professores que são das outras áreas da comunicação.
[09:17:08 – 09:46:21]
Priscila Borges: Acho que isso enriquece a formação e isso enriquece não só a formação de vocês, como enriquece as discussões nos nossos colegiados, porque a gente tem pessoas com perspectivas diferentes sobre comunicação para dialogar. É um pouco isso que precisa acontecer. Acho que na universidade é algo que também acontece no mercado que a gente tem visto, que enfim, o modelo de agência de publicidade ou de um lugar que é exclusivo da publicidade, ele está cada vez menor.
[09:46:23 – 10:11:03]
Priscila Borges: Vocês estão trabalhando em lugares que tem profissionais de muito, com múltiplas competências e seja uma agência de publicidade ou de comunicação num sentido mais amplo, que vai trabalhar com todos os meios de comunicação e habilidades, são meio que não importa se é uma agência de notícias, se é uma agência de publicidade, importa que é um meio de comunicação.
[10:11:05 – 10:41:07]
Evelyn Canuto: É muito interessante ver essa nova perspectiva. E nem foi diferente de todas as outras episódio, mas é muito bom ter esse grau de diferença mesmo. Acho que isso também enriquece
Ana Clara: Acredito que o que você falou também faz muito sentido, porque a comunicação, querendo ou não, abraça muitas áreas. Tudo é comunicação, né? Então também faz muito sentido para o curso você ter essa oportunidade de poder pegar várias matérias, de conhecer várias áreas –
Priscila Borges: e de transitar, inclusive pela universidade.
[10:41:10 – 11:16:16]
Priscila Borges: O que diferencia as universidades das faculdades é justamente o fato dela ter uma pluralidade de cursos. E o que diferencia a Universidade de Brasília de outras universidades é que a ideia de fundação dessa universidade é de que existiria uma relação entre todos os cursos da universidade, é claro, dentro das suas grandes áreas. Mas o projeto é um projeto que pensa grandes áreas e não áreas muito específicas e por isso a relação entre as áreas.
[11:16:21 – 11:49:15]
Priscila Borges: Nas disciplinas optativas, acho que mais claramente, quando eu estudei aqui nos dois primeiros anos da nossa formação, a gente vinha pouco na faculdade de Comunicação e a gente ia muito para o resto da universidade. O primeiro semestre não tinha nenhuma disciplina na faculdade de Comunicação. O primeiro semestre a gente fazia ele inteirinho em disciplinas que ou eram da Letras ou eram das Ciências Sociais.
[11:49:17 – 12:21:22]
Priscila Borges: Porque não dá para falar em comunicação sem falar em ciência social. Então a gente fazia, obrigatoriamente, introdução à Sociologia, Introdução à Filosofia, introdução à Antropologia e a gente gastava o primeiro ano da formação e na Letras fazendo cursos de escrita, de escrita acadêmica, enfim, leitura e produção de texto que não eram dados por professores da comunicação, mas por professores da Letras que são especializados em ensinar leitura e produção de texto.
[12:21:24 – 12:53:02]
Priscila Borges: E esse era um modelo que perdeu um pouco de força ao longo desses últimos anos na universidade, o que eu considero uma perda grande de oportunidade de diálogo entre as áreas e de ir na formação, porque acho que a gente tem uma formação melhor. Se a gente vai nos lugares que são especializados nas áreas e enriquecia muito. O nosso curso tinha uma disciplina de que foi muito marcante para mim, que era dada por uma professora na história, que também era obrigatório, que chamava a cultura brasileira.
[12:53:04 – 13:15:18]
Priscila Borges: E essa disciplina era lá desse desses primeiros semestres. E ela mudava a nossa, a nossa relação com o Brasil. E acho que isso era fundamental para a gente se dar conta de quem a gente era para poder fazer uma boa comunicação para esse país. Então, sim, a gente, essas disciplinas todas que eu falei não são mais obrigatórias não.
[13:15:21 – 13:46:09]
Evelyn Canuto: Como aluna, às vezes fico muito presa aqui dentro da bolha da FAC, da comunicação. E quando eu tive durante semestres, ainda há poucas oportunidades para pegar optativas, mas todas optativas que eu peguei fora daqui da faculdade, de outras faculdades de história, Nossa, foi assim, uma matéria e meio que você até descansa. Tem todo aquele peso da matéria, de ser uma disciplina, de você ter que cumprir, fazer prova, etc.
[13:46:09 – 14:06:09]
Evelyn Canuto: Porque até uma metodologia que a gente não vê muito aqui na FAC, essa coisa mais teórica, no sentido de ter muitas provas, está aqui um trabalho mais prático. Tinha muitos trabalhos, mas e quando a gente vai para o outro lado? Nossa, a diferença foi tão gostosa para mim pessoalmente, que chego até ficar descansar. Isso é legal demais.
[14:06:11 – 14:32:02]
Ana Clara: Acho que a UnB tem essa magia de dar essa oportunidade. Eu peguei a Introdução a Antropologia no meu terceiro semestre com o professor indígena que mudou assim a minha forma de enxergar o mundo, Brasil, vivências. E é muito enriquecedor mesmo. É uma pena que a gente não tenha mais tantas oportunidades como vocês tinham, mas acho que dentro dos cursos ainda é um curso que dá muita abertura para isso.
[14:32:02 – 14:56:19]
Priscila Borges: Sim, porque o número de créditos optativas é alto, porque o que mudou foi que as obrigatórias não são mais dadas fora da FAC, assim, em sua maioria. Acho que talvez não tenha nenhuma mais. A gente era, na verdade, na época, a gente não era oportunado, a gente era obrigado. Ou faz, ou faz.
Evelyn Canuto: Nesse próximo ponto,
[14:56:19 – 15:26:08]
Evelyn Canuto: professora, acho que você deu um panorama sobre já. Mas então, só para a gente cumprir, gostaria de ressignificar um pouco a pergunta, no sentido de que, você acredita que a presença de professores nesse caso, mulheres no curso de publicidade, você acredita que reflete uma presença maior de meninas, mulheres no mercado da publicidade?
Priscila Borges: Olha, talvez eu vá de novo dar uma resposta que não é –
[15:26:10 – 15:59:18]
Priscila Borges: Mas porque eu não acredito, não, não acredito porque eu acho que a gente não pode. E não é só porque não é porque eu sou pessimista com o mundo que eu não acredito. Eu não acredito porque a gente não pode tomar um caso particular como o geral, né? Isso quem nos ensina é o método científico e, de certo modo, a semiótica também, porque se desenvolveu a semiótica como um método dos métodos das ciências específicas.
[15:59:20 – 16:22:13]
Priscila Borges: Então, a semiótica é uma questão metodológica envolvida no processo, nessa teoria semiótica. E é por isso que isso me pega assim tão forte. E aí eu estou aqui também usando o termo ciência de um modo amplo, para a gente pensar todos os processos de conhecimento, não apenas de ciências duras, como às vezes as pessoas entendem. E eu posso dar um bom exemplo para explicar essa questão.
[16:22:15 – 16:41:05]
Priscila Borges: A gente não pode tomar um caso particular como o geral, e ele fala assim imagina que você tem uma saca de feijão de 30 quilos e essa saca normalmente é opaca e a gente não pode ver todos os grãos que estão lá dentro. E se eu tirar um feijão preto da saca? Será que eu posso afirmar que todos os feijões da saca são pretos?
[16:41:07 – 17:06:21]
Priscila Borges: Não, não estou vendo todos os feijões e eu só posso afirmar atirando no feijão que o que eu tirei é preto. Os outros eu continuo sem saber de que cor eles são. Embora a gente até as vezes no dia a dia, seja induzido a pensar desse jeito. E essa conclusão de que todos os feijões devem ser pretos ela não pode ser aceita
[17:06:23 – 17:31:13]
Priscila Borges: não se a gente tiver buscando conhecimento. Para a gente produzir conhecimento que tem alguma fundamentação, a gente não pode ser induzido, a gente não pode se levar por esse tipo de pensamento que a gente tem. Mas aí o método vem justamente pra dizer assim olha lá, cuidado com o pensar desse jeito que pode dar muito errado numa saca de trezentos.
[17:31:14 – 17:57:10]
Priscila Borges: Pode ter tido o caso de você ter tirado o único que era preto lá de dentro. A chance é baixa? Pode ser, mas numa saca de 30 quilos, sei lá sobre os outros feijões. E aí tem uma outra diferença que eu acho que entre esse exemplo que eu posso dar e essa questão que vocês estão propondo, que é que no caso dos feijões, a gente está falando de feijão da mesma saca.
[17:57:12 – 18:23:00]
Priscila Borges: E no caso do mercado de trabalho, uma coisa é a docência na universidade e outra o trabalho no mercado. E talvez aqui a gente esteja falando de tirar o feijão de uma saca e falar sobre a qualidade do feijão de outra saca? Porque a forma como se encaminham os profissionais que vão ser docentes é totalmente diferente da forma como se encaminham os profissionais no mercado.
[18:23:02 – 18:59:05]
Priscila Borges: E eu comecei aqui dizendo que eu saí do mercado porque eu não suportei o mercado e o ambiente da docência diferente. Pelo menos na minha carreira, foi diferente. Então é isso. Acho que a partir desse caso particular, que é a predominância de mulheres nas vagas específicas de publicidade, eu não consigo dizer sobre o mercado de trabalho e como eu não estudo isso daí, eu não vou me atrever a dizer nada sobre as mulheres no mercado de trabalho da publicidade e no caso específico dos concursos na
[18:59:05 – 19:23:08]
Priscila Borges: UnB que eu poderia dizer um pouco mais sobre a docência na UnB O que eu sei é que a gente não tem nenhum tipo de ação afirmativa na UnB para a gente equilibrar desigualdades de gênero na contratação de novas professoras. E isso me leva a pensar que talvez o fato de a gente ter contratado mais professores seja mero acaso
[19:23:10 – 20:07:15]
Priscila Borges: aqui nosso curso de publicidade, agora sim, a gente poderia investigar isso com uma pesquisa e ver qual é a proporção de mulheres na universidade, fazer uma pesquisa de mercado para tentar entender melhor essa situação, que eu acho que é bem interessante de ser pesquisada, inclusive. Eu acho que a professora Renata falou sobre isso também, sobre como mulheres já entrou como desvantagem na hora de fazer concursos para entrar em docência e tudo mais, porque exige um tempo de pesquisa muito grande que muitas vezes naquele período, se você teve um filho, você não consegue fazer pesquisa da mesma forma que uma pessoa, que um homem que tem tempo livre para fazer o que ele quiser
[20:07:17 – 20:36:17]
Priscila Borges: tem, por exemplo. Então, tipo, essa é uma discussão que as pessoas têm feito sobre como equilibrar na hora dessa pontuação por produção e tentar equilibrar pontuação porque não tem, não tem nenhum tipo de abono, assim, pelo fato de você de repente ter tido nos últimos cinco anos um filho e evidentemente, se você teve um filho, sua produção não vai ser comparável com a produção de qualquer pessoa que não teve filho.
[20:36:19 – 21:11:00]
Priscila Borges: E daí meio que não importa se é mulher ou homem, o fato de ter filho sobrecarrega a mulher, a gente sabe, e a gente não tem como compensar isso na hora de uma pontuação, de uma pontuação para concurso. Isso é algo que as pessoas têm discutido, inclusive sinalizado no Currículo Lattes, que é o nosso currículo de docente, os períodos de licença para maternidade, entendendo que essa é uma informação importante para a gente entender o percurso dessa pesquisadora.
[21:11:02 – 21:42:10]
Ana Clara: Como professora de pré projeto, você tem notado um ter um aumento no número de temas que exploram movimentos sociais, especialmente aqueles que destacam a presença e o papel das mulheres na publicidade?
Priscila Borges: Olha, desde que eu dou essa disciplina, que é desde 2015, as questões sociais e de gênero, elas aparecem mais ou menos constantemente no pré projeto. Varia um pouco a intensidade e o número de alunos interessados nessas questões
[21:42:12 – 22:09:18]
Priscila Borges: de acordo, percebam, isso de acordo com as experiências que eles tiveram em disciplinas na universidade. Então, porque eles chegam relatando ah que tenho interesse nisso, porque eu estou num projeto de pesquisa com fulano, por que eu fiz uma disciplina que eu aprendi sobre isso. E eu já percebi que quando a disciplina Comunicação é gênero, que é uma disciplina optativa, que da FAC, ela é ofertada regularmente, cresce o interesse por questões de gênero e feminismo
[22:09:18 – 22:34:17]
Priscila Borges: lá no pré projeto. Mais recentemente, quem ofertou essa disciplina foi a Emília Silberstein, que é uma professora do audiovisual que está de licença para fazer um doutorado agora, talvez eles não tenham visto ela por aí. Ela ofereceu esses essa disciplina durante alguns semestres e logo em seguida chegaram projetos motivados pela aula dela. E aí foi isso. Ela deu vários semestres
[22:34:17 – 23:10]
Priscila Borges: as alunas, alunas e alunos, porque a questão de gênero também impactou os alunos. E aí eles chegaram com os projetos. Eles tinham a intenção de ser orientados por ela e ela saiu de licença e a gente teve que achar outras pessoas que orientassem os projetos, o que não foi muito difícil, porque na verdade, a gente tem um corpo docente na FAC, que é bastante grande, trabalhando com questões de gênero.
[23:15 – 23:31:03]
Priscila Borges: Essa disciplina, mesmo, ela foi criada pela professora Tânia Montoro, que é uma professora aposentada do audiovisual. A Tânia contribuiu fortemente para as pesquisas de gênero no cinema e no audiovisual, aqui na FAC. Ela trabalhou na pós graduação também. Ela trabalhava muito em parceria com a Selma Oliveira, que era uma professora da publicidade que fez e fazia pesquisas em quadrinhos, fez um doutorado sobre representação feminina no quadrinho.
[23:31:05 – 23:59:20]
Priscila Borges: E além delas, a gente tem essas outras professoras nos outros cursos, além da Emília no audiovisual, a Rose trabalha com gênero. A Denise tem trabalhado com questões que envolvem gênero também. No jornalismo, a Liliane, a Márcia Letícia, a Susana Guedes, a Taís Mendonça. Em Comunicação Organizacional, a Fabíola, a Hellen, a Cátia, a Tatiana. E aqui na publicidade a gente tem a Beatriz, né?
[23:59:22 – 24:25:20]
Priscila Borges: Então acho que tem na FAC, um corpo docente bastante antenado com essas questões.
Evelyn Canuto: Professora, já para a gente encaminhar para o final, os dois últimos pontos, do seu ponto de vista, como você vê o futuro na presença de mulheres no campo acadêmico e na indústria? A gente sabe que, como você vem falado, você conhece mais do campo do que do mercado
[24:25:22 – 24:52:05]
Mas, como você vê o futuro?
Priscila Borges: Olha, eu não costumo trabalhar com bola de cristal, então eu tenho muita dificuldade de falar sobre o futuro. O que eu vejo é muito mais o passado e vou dizer que eu vejo. O que eu vejo é passado, porque nem o presente a gente vê direito. Já reparou quando a gente se dá conta do que a gente viu
[24:52:05 – 25:44:23]
Priscila Borges: o presente já é passado. Então, o que eu acho que a gente consegue ver é um movimento do passado e talvez tendências, coisas que a gente percebe como tendências do passado, a gente pode pensar que há uma possibilidade de elas serem tendências futuras. Eu acho que a gente tem um aumento, a gente vê na história da própria faculdade e nos estudos de gênero um aumento grande de pessoas estudando, de questões de gênero sendo discutidas academicamente e no mercado de gênero no geral, não só sobre feminismo e a sociedade como um todo, que eu acho que o mercado reflete muito a sociedade, a sociedade tem ficado,
[25:45:00 – 26:33:21]
Priscila Borges: tem sido um pouco mais atenta a alguns problemas de gênero. Embora eu acho que ainda tem um longo caminho para a gente percorrer, porque talvez a gente ainda esteja bastante segmentado na preocupação com gênero. Digo, talvez isso seja uma preocupação de uma bolha e a gente não consiga dizer, eu não acho que a gente consegue dizer que a gente não tem preconceito de gênero, que a gente é uma sociedade que conseguiu algo, a gente teve avanços, mas a gente ainda tem muito trabalho pra fazer, porque a gente ainda sofre muito e sofre muito com no sentido físico,
26:33:21 – 27:07:14]
Priscila Borges: inclusive a gente tem medo, a gente é agredida. Então assim, viver num mundo assim torna mais difícil tudo e é difícil pensar que o que o mercado da publicidade seja um mercado que vai despontar na vanguarda de ser diferente da sociedade porque o que a gente percebe mais é dele ser, na verdade, ser um lugar que espelha muito a sociedade.
[27:07:14 – 27:37:24]
Priscila Borges: Por isso uma discussão muito grande que existe sobre o próprio mercado de publicidade ser um mercado que não respeita o trabalhador, que enfim, quer dizer cria contrato cada vez mais precário e explora mesmo o funcionário. Então isso é uma discussão que nem é só de gênero, mas sim nas questões de gênero, nos relatos que a gente tem das mulheres que são demitidas de agências porque elas ficam grávidas frequentes.
[27:38:01 – 28:04:06]
Ana Clara: Eu acho que também entra muito nessa discussão de que não basta ter mulheres no mercado, mas também é necessário ter elas em locais de poder mesmo, ser a chefe da agência. E mesmo tendo mulheres como chefe de agências ainda você vai sofrer porque -.
Priscila Borges: Sabe, eu conheço um lugar aqui em Brasília, uma agência de publicidade aqui em Brasília que é formada exclusivamente por mulheres, que quem fundou é uma mulher.
[28:04:08 – 28:40:22]
Priscila Borges: Que é Ana Rita. Não sei se vocês conhecem ela. Ela tem uma agência que na qual trabalham majoritariamente, mulheres que tem um homem na agência e ela e ela faz um trabalho que é um trabalho de contratar mulheres para trabalhar na empresa. E ela faz a seleção visando mulheres. Se ela não encontrar, ela pega o homem, chama Lavanda a agência dela.
Evelyn Canuto: Já fica aqui de recomendação pros ouvintes.
[28:40:24 – 29:14:13]
Priscila Borges: É a única que eu conheço aqui em Brasília que tem isso como uma um princípio da empresa.
Ana Clara: E para finalizar, a gente gostaria de ouvir um recado que você deixaria para as gerações futuras de estudantes e profissionais da área, em especial mulheres.
Priscila Borges: Bom, acho que vou resumir três recados, três indicações: leiam livros, vejam TV aberta e ouçam rádio.
[29:14:15 – 29:45:22]
Priscila Borges: Tem um mundo que está para além das nossas redes sociais. A gente precisa conhecer isso.
Ana Clara: Eu acho que isso é uma coisa muito da nossa geração, de assumir que todo mundo está na internet e todas as pessoas vão entender do que a gente está falando naquela linguagem. Só que o Brasil é um país muito extenso, com muitas diferenças, e a TV aberta ainda é um lugar muito forte no país.
[29:45:24 – 30:12:20]
Ana Clara: Ainda é um canal que às vezes é o único canal que muitas pessoas ainda têm acesso –
Priscila Borges: Muitas não têm acesso a TV aberta e ouvem rádio. O número de ouvintes de rádio só cresceu nos últimos anos. Então a gente precisa ficar atento a isso também.
Evelyn Canuto: Inverter um pouco a lógica que a gente está acostumado e, principalmente, como futuros profissionais de comunicação que visa a comunicação de massa.
[30:12:24 – 30:48:21]
Evelyn Canuto: A gente está falando de meios de comunicação massivos e não muito nichado, por exemplo, como é o caso de streams e assinaturas. Sou dessas pessoas que têm diversas assinaturas.
Priscila Borges: Esse é um país que tem uma quantidade de pessoas muito grande no limite da sua conta ou endividados. Então assim é. A gente está falando imagina aqui em Brasília, as grandes agências de publicidade, as grandes campanhas de comunicação são campanhas do Estado sozinho.
[30:48:23 – 31:15:08]
Priscila Borges: E ela não fala com o pessoal de streaming. Enfim, acho que para além disso, os livros. A gente precisa ter uma cultura das letras, a gente precisa ter leitura, porque é lendo que a gente aprende a falar, a escrever, a se comunicar melhor, o afastamento da leitura e da leitura, eu falo de livros porque de uma leitura extensa e concentrada, de um texto maior.
[31:15:10 – 31:40:19]
Priscila Borges: A gente lê o tempo inteiro, mas lê fragmentos de mensagens em redes sociais não funciona, é diferente. E a leitura do livro, que traz vocabulário, articulação. E isso tudo é absolutamente importante para quem vai ser um comunicador.
Evelyn Canuto: Muito obrigado pela entrevista, professora Priscila. Foi um prazer recebe-la para gente encerrar com chave de ouro, igual a Ana Clara falou, o nosso podcast.
[31:41:00 – 32:07:23]
Evelyn Canuto: Essa é a terceira temporada do podcast Labiar, intitulado A Publi é Delas e o Labiar chega ao fim. E se você gostou, não deixe de compartilhar conteúdo nas suas redes sociais. Marcar a gente @labpp_UnB e, claro, participar do Colab, evento comemorativo dos 20 anos do Laboratório de Publicidade e Propaganda da Faculdade de Comunicação da UnB, nos dias 30 e 31 de outubro e 1º de novembro, na própria FAC.
[32:07:23 – 32:39:04]
Evelyn Canuto: Você encontra programação completa no nosso Instagram.
Ana Clara: O episódio foi gravado no Laboratório de Áudio da Faculdade de Comunicação da UnB no dia 21 de agosto de 2024. O roteiro foi elaborado por Ana Clara Alves e Evelyn Canuto e Laís Apolinário, com edição de Laís Apolinário.
[32:39:06 – 32:49:04]
[Vinheta de jazz animada com efeitos de rádio no final]
Locutor: Laboratório de Publicidade e Propaganda. Criatividade em todos os sentidos.