[00:00:00:00 – 00:00:33:23]
Locutor: Esse podcast apresenta recursos de acessibilidade. Acesse labpp.unb.br.
[Vinheta A Publi é Delas com estética de rádio e a palavra Labiar sendo repetida diversas vezes]
Laís Apolinário, entrevistadora: Olá, eu sou Laís Apolinário
Ana Clara, entrevistadora: E eu, Ana Clara Sampaio
Laís Apolinário: Estudantes do Laboratório de Publicidade e Propaganda de 2024.1 e membros do Comitê de Direitos Humanos do projeto Evento. Esse é o Labiar, o podcast em comemoração aos 20 anos do Laboratório de Publicidade e Propaganda da UnB.
[00:00:34:00 – 00:00:46:11]
Laís Apolinário: Hoje vamos labiar sobre a presença majoritária de professoras mulheres no Colegiado de Publicidade e Propaganda da FAC, intitulado A Publi é Delas.
[Campainha]
[00:00:46:13 – 00:01:15:22]
Ana Clara: A Publi é Delas, além de ser uma iniciativa do Comitê de Direitos Humanos da turma organizadora do evento, busca dar continuidade ao labiar em um formato diferente. Hoje se juntou a nós para um bate papo às professoras Beatriz Beraldo e Tatiane Amorim, do curso de Publicidade e Propaganda da FAC, UnB, para conversarmos sobre a presença majoritariamente feminina dentro do colegiado da publicidade atual e como as próprias professoras enxergam e pensam essa estrutura.
Laís Apolinário: Docente da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília.
[00:01:16:02 – 00:01:39:09]
Laís Apolinário: Doutora em Comunicação Social pela PUC Rio e mestre em Comunicação e Práticas do Consumo pela Escola Superior de Propaganda e Marketing, vinculado ao Grupo de pesquisa Laboratório de Antropologia do Consumo. Possui bacharelado em Comunicação Social, Publicidade e Propaganda pelo Centro Universitário do Norte e é licenciada em Letras na Universidade do Estado do Amazonas. Esta é Beatriz Beraldo.
Beatriz Beraldo, entrevistada: Sou eu.
[00:01:39:12 – 00:02:06:03]
Beatriz Beraldo: Olá! Obrigada pelo convite e feliz de estar aqui com vocês.
Ana Clara: Doutorada pela Faculdade de Comunicação UnB Mestre em Comunicação e Práticas do Consumo pela Escola Superior de Propaganda e Marketing, Especialista em Propaganda e Marketing e graduada em Comunicação Institucional e Relações Públicas pelo Instituto de Educação Superior de Brasília. Esta é Tatiana Amorim.
Tatiana Amorim, entrevistada: Olá pessoal! Muito feliz por estar aqui.
[00:02:06:05 – 00:02:27:20]
Laís Apolinário: A gente agradece o convite de vocês vocês estarem aqui. Nós estamos muito felizes com a presença de vocês, ainda mais por um momento tão marcante na faculdade de Comunicação e a gente queria que vocês se apresentassem. A gente trouxe aqui uma apresentação mais formal de vocês, mas que vocês trouxessem um pouco sobre vocês e sobre as áreas de pesquisa que vocês estão trabalhando e já trabalharam.
[00:02:27:22 – 00:03:00:21]
Beatriz Beraldo: Bom, mais uma vez agradeço o convite. É sempre um prazer falar sobre publicidade sobre mulheres, dois temas que estão muito dentro da minha trajetória acadêmica. Eu trabalhei em agência no início da carreira. Eu até concluí a faculdade de Letras. Quando eu decidi que eu ia fazer a carreira acadêmica mordida pelo bichinho da sala de aula. E aí eu fui para São Paulo fazer o mestrado na ESPM e nesse mestrado eu fui muito peito aberto.
[00:03:00:21 – 00:03:27:16]
Beatriz Beraldo: Eu não tinha um projeto de vida assim. O que eu queria mesmo era fazer mestrado. E aí eu fui abraçada pela professora Rosa de Melo Rocha, que estava estudando as juventudes e a partir dali o meu enquadramento acadêmico passou a ser esse olhar para as mulheres, porque o meu objeto de pesquisa no mestrado foi a Marcha das Vadias, um fenômeno da juventude que estava acontecendo ali naquele período de 2012 a 2014, que foi o período do mestrado.
[00:03:27:18 – 00:03:54:24]
Beatriz Beraldo: Depois, e por motivos particulares, eu mudei para o Rio de Janeiro e fiz o doutorado na PUC Rio, sob orientação do professor Everardo Rocha, que é da linha de antropologia do consumo. Então, já com esse enquadramento das mulheres, a gente buscou um objeto que alcançasse o interesse dos dois. E então eu observei a bicicleta na história das mulheres, principalmente no final do século XIX, início do século XX.
[00:03:54:24 – 00:04:21:17]
Beatriz Beraldo: E como isso tinha e como esse bem de consumo teve algumas implicações na história do movimento feminista ali, principalmente na primeira onda do sufrágio universal. Então, esse olhar, esse óculos, essa lente para as mulheres, ela está em tudo o que eu faço. E os últimos trabalhos que eu fiz já fora do século XIX, lá das bicicletas, também são com esse enquadramento das mulheres.
[00:04:21:17 – 00:04:49:02]
Beatriz Beraldo: Eu acabei de voltar da Compose com um artigo sobre mulheres. Eu estou atualmente na linha de pesquisa e coordenada pela professora Carina Flexor, nossa querida colega aqui do curso, que é sobre a educação contemporânea com as mídias digitais e tal. E o meu enquadramento também será com esse olhar recortado para as mulheres. Então é um pouco por aí.
[00:04:49:04 – 00:05:33:05]
Tatiana Amorim: Primeiro, agradecer o convite, bem satisfeita por estar aqui vendo vocês também nesse ambiente diferente da sala de aula. Bom, eu decidi seguir carreira acadêmica ainda na graduação. Eu fiz graduação em Relações Públicas e lá eu admirava muito minhas professoras e quando eu falo professoras era professoras mesmo que eu que eu admirava. E o plano, o primeiro plano era terminar a graduação, entrar para o mercado ou pegar um certo tempo de experiência e depois partir para mestrado e doutorado e fazer as duas coisas mais.
[00:05:33:05 – 00:06:06:07]
Tatiana Amorim: O plano precisou mudar um pouco, porque Brasília, àquela época eu terminei a graduação em 2003. Brasília não tinha assim tanta área para comunicação institucional, comunicação organizacional ou relações públicas. E eu trabalhei muito, assim como freela em agências na área de planejamento, e rapidamente percebi que o caminho, o melhor caminho seria partir para o mestrado. E assim como a Bia, eu parti para São Paulo para fazer o mestrado em Comunicação e Práticas de Consumo da ESPM.
[00:06:06:09 – 00:06:39:18]
Tatiana Amorim: Tive como orientador o professor Clóvis de Barros Filho e lá eu pesquisei a questão do consumo de conhecimento, porque eu pesquisei uma instituição que não tem aqui em Brasília, mas é a Casa do Saber, uma instituição diferenciada que oferece cursos aí bem caros, em áreas de conhecimento diversas. E depois eu fiquei mais um tempo em São Paulo. Ainda trabalhei um pouco no escritório do professor Clóvis, acompanhei a rotina dele maluca de palestras e tudo mais.
[00:06:39:20 – 00:07:12:06]
Tatiana Amorim: Mas voltei para Brasília já para trabalhar como professora. Levei um tempo bom. Acho que uns seis anos, até começar o doutorado. Fiz doutorado aqui no UnB, fui orientanda da professora Liliane Machado, que já tem a linha de pesquisa mais direcionada para o discurso jornalístico e questões de gênero. E a minha pesquisa foi justamente nessa linha sobre o discurso do Correio Brasiliense a respeito de Dilma Rousseff.
[00:07:12:08 – 00:07:46:20]
Tatiana Amorim: Durante todo o período em que Dilma esteve no poder. Diferente do mestrado, foi um trabalho que me empolgou bastante e eu sigo nessa linha. E a minha produção basicamente está em tornar o discurso jornalístico e as questões de gênero. Mas agora eu estou começando a mudar, tendo a intenção de mudar isso para estudar o discurso publicitário, as questões de gênero. Já tem muitos estudos, mas vou incluir aí a análise do discurso nesse campo.
[00:07:46:22 – 00:08:11:17]
Laís Apolinário: Muito legal saber um pouquinho da história de vocês da área. Como professora falou, muito legal. A gente está fora da sala de aula. Essa é uma oportunidade que a gente está tendo de ficar mais pertinho das professoras e também ressaltar o podcast aqui que essa iniciativa foi a partir de uma conversa com a professora Beatriz, onde uma ficou instigando a outra ali com vários assuntos e a gente está tendo a oportunidade de fazer isso.
[00:08:11:19 – 00:08:45:07]
Ana Clara: É muito bom também ver mulheres no campo acadêmico, porque a gente sabe que não é tão comum assim, majoritariamente masculina esse ambiente. Enfim, é muito inspirador ter vocês duas aqui com a gente. Incrível! Mas falando agora um pouco sobre o colegiado, a gente gostaria de saber se na experiência de vocês existe uma diferença muito grande entre o colegiado aqui na Universidade de Brasília e na faculdade privada, porque as duas também tiveram essa experiência de ser docentes em faculdades privadas e na UnB, né?
[00:08:45:09 – 00:09:25:24]
Tatiana Amorim: Bom, as diferenças entre instituições de ensino públicas e privadas abrangem absolutamente tudo. Na minha opinião. De acordo. A começar pela liberdade do professor, a autonomia do professor. Mas em questão de colegiado e assim falando em relação a presença feminina, eu passei nove anos numa instituição privada e lá eu tinha como coordenadora uma mulher que de quem eu fiquei muito próxima e.
[00:09:26:01 – 00:09:38:14]
Tatiana Amorim: Como eu digo isso? Eu acho que a diferença maior não é na quantidade de mulheres, mas na questão da feminização do ambiente. Sabe?
[00:09:38:16 – 00:10:13:06]
Tatiana Amorim: Eu não consigo falar de uma cultura feminina no ambiente da universidade privada. É mais ou menos isso. Então, por mais que que existissem mais mulheres, a forma de se trabalhar, de abordar as pessoas não era uma forma que transparecesse uma cultura, uma forma de fazer feminino. Então a gente tinha uma feminilização uma presença maior de mulheres, mas não uma feminização do ambiente.
[00:10:13:08 – 00:10:48:14]
Beatriz Beraldo: Bom, eu concordo completamente com a Tati no quesito de que é tudo muito diferente para algumas pessoas. Eu dizia até parece que eu mudei de carreira, mudei de lugar. Eu fiquei oito anos numa instituição privada que eu, assim, aprendi muito. Eu sou grata pelo tempo que passei lá e pelos aprendizados, pelas oportunidades que tive. Mas é nesse ponto da mulher, nesse espaço e temos essa,
[00:10:48:14 – 00:11:17:13]
Beatriz Beraldo: eu tenho uma percepção semelhante, eu e Tati, no sentido de que o mundo dos negócios, ele foi feito pelos homens. Então há alguns atravessamentos que não estão nem no pensamento. Por exemplo, aqui, de maneira aqui, na UnB de um modo geral, não na FAC, que de uma maneira ainda um pouco precária, a gente tem alguns programas de bolsa de incentivo as mulheres com filhos pequenos.
[00:11:17:17 – 00:11:42:19]
Beatriz Beraldo: digo no ponto de vista das estudantes, do ponto de vista das professoras, a gente tem o PIJ que o programa infanto-juvenil, que tem uma sede e que acolhe meu filho, estuda lá e eu quero exaltar o piso nesse podcast, porque é um espaço muito importante para a comunidade acadêmica. Então, filhos de servidores, de professoras e de alunas, todos podem estar lá.
[00:11:42:21 – 00:12:12:23]
Beatriz Beraldo: Claro que tem as limitações físicas e de capacidade das professoras, mas enfim, só mostrando que existem projetos para isso no campo privado. Isso não é não está em discussão a licença maternidade, por exemplo. Não há muita flexibilidade para o período em que você vai tirar essa licença. Existe uma coisa da empresa cidadã de ampliar a licença. Não sei o que é, mas não foi a minha, não foi a minha experiência.
[00:12:13:00 – 00:12:47:03]
Beatriz Beraldo: E assim, todas essas questões que são da ordem da mulher são sempre colocadas em dentro do mercado de trabalho como de segunda categoria. A questão que fica para depois, depois a gente discute que na volta a gente compra e aí e acaba que a gente sente essa diferença lá dentro. Acho que como, como a Tati reforçou, eu queria também dizer que tem um aspecto que é assim em geral, é de diferença entre a universidade pública e a universidade privada.
[00:12:47:05 – 00:13:13:04]
Beatriz Beraldo: Mas também eu senti porque entrei muito jovem, com 24 anos, uma uma sensação também de tratar não só por eu ser mulher, mas poder ser jovem. Então tinha esses dois atravessamentos que eu não consigo muito desassociar. Mas não sei a parte paternal lismo dos homens. Ah, deixa eu te ensinar como é que vai ser a disciplina, deixa eu te mostrar como é que eu faço para você fazer também.
[00:13:13:06 – 00:13:51:05]
Beatriz Beraldo: Então não sei bem se era porque sou mulher ou se era porque eram jovens, muito provavelmente pelo combo.
Ana Clara: E é difícil, né? A gente sabe que por ser mulher, você já é invalidada em vários aspectos. No campo acadêmico, nem imagino como pior isso pode ser, mas falando agora um pouco sobre as mudanças, a gente queria saber quais mudanças você percebeu ao longo dos anos na participação das mulheres na academia e na indústria da publicidade, se houve alguma evolução relevante ou se você acha que ainda tem muito que melhorar, se ambos.
[00:13:51:07 – 00:14:19:16]
Beatriz Beraldo: Eu gosto de pensar que sim, que nós não estamos no mesmo lugar que nós estávamos há 30 anos atrás, celebrando aí os 20 anos de laboratório. Eu acredito que a gente teve sim, transformações, sobretudo no campo da comunicação. E aí, de um modo mais abrangente, porque se a gente olhar para o jornalismo, também as nossas referências jornalísticas tem mulheres, tem se colocado nesse lugar.
[00:14:19:18 – 00:14:59:02]
Beatriz Beraldo: A gente tem muita força do jornalismo feminino, nacional e internacional fazendo diferença. Na publicidade, a gente ainda não tem grandes nomes destacados, como a gente teve, né? Nizam, Washington Olivetto, esses grandes dinossauros da publicidade que a gente sempre cita em sala de aula. Mas é um cenário que também está mudando, haja vista que o nosso colegiado, destacado pelos podcast e também a quantidade de alunas que nós temos em sala de aula, é claro, existem já grandes nomes dentro de agência também.
[00:14:59:04 – 00:15:37:13]
Beatriz Beraldo: No campo acadêmico eu acho que a conquista é ainda maior no sentido numérico. E eu acho que é porque assim a gente tem algumas questões, muitas questões, mas a gente também pode exaltar essa, esse avanço no sentido numérico, porque a partir daí que a gente vai, também, botar e imprimir os novos olhares. Se a gente pensa no campo da política e isso sim tem, tem mulheres lá que a gente considera dissonantes de uma pauta mais progressista, mais feminista, com certeza.
[00:15:37:15 – 00:16:17:21]
Beatriz Beraldo: Mas a gente precisa primeiro ocupar os espaços para depois qualificar essas discussões, uma vez que não existem mulheres nos espaços, sabemos, não existia nem banheiro dedicado às mulheres naqueles espaços. Então é um processo gradativo. Mas assim, a curva, olhando num zoom out assim, um gráfico, me parece uma curva ascendente, no sentido de que hoje a gente já tem um grupo de discussão de gênero, a gente já tem linhas de pesquisa nesse sentido, a gente já tem uma publicidade preocupada minimamente em fazer um pré-teste para observar a impressão feminina a respeito do dos produtos.
[00:16:17:21 – 00:17:00:15]
Beatriz Beraldo: Então me parece que temos sim algo a comemorar nesses 20 anos.
Tatiana Amorim: Bom, eu não vou repetir tudo que a Bia falou, de acordo com absolutamente tudo. A única questão que eu fiquei pensando aqui é que sim, essa curva em termos de números nela, ela tem aumentado e às vezes até eu penso que que um pouco rapidamente. Mas o que me deixa preocupada é que tanto no meio acadêmico quanto no mercado publicitário e da comunicação como um todo, faltam mulheres em posição de poder, né?
[00:17:00:17 – 00:17:32:20]
Tatiana Amorim: Então nós temos sim, nós temos. Eu olho para as minhas salas de aula, eu vejo mais mulheres, eu olho para o colegiado, vejo mais mulheres, às vezes agências, edições dos jornais e por aí vai. Nós vemos mais mulheres. Mas e as posições de poder? Por que essas mulheres não estão ocupando? Eu acho que isso é o que a gente precisa mudar mais daqui para frente, claro.
[00:17:33:00 – 00:17:57:15]
Tatiana Amorim: Na FAC a gente tem Dione Moura, né? Maravilhosa. E temos aí as exceções. Mas a gente, eu acho que a gente não tem que se contentar com exceção. A gente tem que virar regra mesmo.
Laís Apolinário: Com certeza. Como vocês destacaram, a gente tem um caminho pela frente, mas essa ocupação que está tendo agora dá uma resposta muito boa para a publicidade que vem aí a frente.
[00:17:57:17 – 00:18:30:14]
Laís Apolinário: Porque a gente que vai entrar nas agências, a gente que vai estar nas instituições, a gente que está trabalhando no serviço público e isso já evita aquela bomba que dois anos atrás da publicidade com propagandas super machistas a gente conhece o histórico. Eu sempre destaco aqui o histórico da publicidade, ele é assim, um pouco difícil, mas que ao longo dos anos, com a gente interferindo nesses espaços, tem alguém pra aconselhar sobre o que vai sair e sobre o que vai ser falado e até mesmo a forma como a estrutura funciona.
[00:18:30:16 – 00:19:14:20]
Laís Apolinário: A professora estava falando ontem, professora Renata, sobre prova de títulos, onde muitas, muitas professoras acabam ficando de certa forma aqui entre aspas para trás, porque o tempo que poderia estar fazendo algum curso, um coisa está de licença maternidade, né? Então já coloca os homens lá na frente, porque não são eles que ficam muito, como a gente conhece da estrutura da nossa sociedade nesse lugar de cuidador, não só com crianças, mas também muita gente, muitas mulheres que cuidam dos pais e cuidam dos irmãos, de quem tá doente, das próprias mães, da casa e principalmente, eu acho que vocês trouxeram bastante sobre a experiência de vocês na linha de pesquisa, então eu vou tentar mudar um pouco
[00:19:14:20 – 00:19:43:01]
Laís Apolinário: da próxima a próxima pergunta, né? O projeto de destaque de vocês, a professora Beatriz, também já trouxe. Eu queria que vocês falassem um pouco daquela perguntinha pra trazer mesmo a curiosidade dos nossos ouvintes sobre situações assim, claro, se vocês se sentirem a vontade que vocês passaram, principalmente por serem mulheres dentro da comunicação dos espaços que vocês estavam trabalhando, estudando.
[00:19:43:03 – 00:20:31:15]
Beatriz Beraldo: Bom, vou contar um causo que me aconteceu há muito tempo atrás. Sei, é importante registrar, porque eu acredito que hoje também temos homens aliados dentro do campo da publicidade, que conseguem minimamente se deslocar do seu lugar e enxergar algumas das nossas questões. Então foi num contexto diferente, ali pelos idos de 2010. Então, antes mesmo de eu colocar essa lente acadêmica do feminismo em Manaus, eu trabalhava numa agência de publicidade e aí a gente recebeu uma degustação de mídia de banheiro, que significa aquela mídia que fica na porta da cabine de banheiro, de banheiros, de shopping center e degustação,
[00:20:31:15 – 00:21:01:01]
Beatriz Beraldo: porque a gente poderia colocar qualquer um dos nossos clientes da carteira, porque era uma oferta da empresa de mídia que estava chegando em Manaus naquele momento. E aí a gente tinha a trabalhava como concessionária de veículos e estava tendo o lançamento de um carro novo e um dos nossos colegas, querido colega, mas enfim, naquele momento teve uma ideia que foi o seguinte era a foto do carro, o nome do carro, não vou identificar,
[00:21:01:01 – 00:21:37:16]
Beatriz Beraldo: e dizendo assim o título que encaminhava o anúncio dizia assim tão irresistível que você até já abaixou a calcinha porque ele ficaria na porta do banheiro. Então tinha um trocadilho que você realmente estaria fazendo xixi naquele momento. E aí, dentro da área de criação só tínhamos mulheres: eu que era redatora estagiária no momento e a tráfego que não está numa posição de poder, como citou a Tati há pouco.
[00:21:37:18 – 00:22:08:23]
Beatriz Beraldo: E aí todo mundo fez aquele caraca, que sacação ótimas, aquela, aquele espírito de agência. E a coisa foi, mas o diretor de criação brecou. Só que teve um poderia ter terminado aí, mas teve um revertério lá porque o redator em questão colocou no portfólio e depois o cliente em questão descobriu. E foi uma pequena confusão por conta desse anúncio que ia lá em 2010,
[00:22:08:23 – 00:22:43:22]
Beatriz Beraldo: que já soou esquisito. Embora eu a gente possa reconhecer minimamente a piada pretensa ali no contexto, quando você está envolvendo um anunciante, quando você estava vendo uma publicação, você não está numa mesa de bares, não está num contexto de uma dinâmica de amigos, você está numa dinâmica de negócios, era uma coisa que que soava ofensiva. Isso foi percebido por mim e pela outra colega, mas a gente não tinha –
[00:22:43:22 – 00:23:21:01]
Beatriz Beraldo: Eu reconheço, eu não tinha argumentos para dizer como aquilo estava me incomodando. Foi antes do meu mestrado, como eu falei, e também não tinha poder de brecar a saída desse anúncio, não é?
Tatiana Amorim: Passei e passei por algumas experiências marcantes e digo que a maioria delas aconteceram de forma assim, sabe quando você para e pensa depois e fala: eu não acredito que eu passei por isso, porque a gente analisa depois.
[00:23:21:03 – 00:23:57:13]
Tatiana Amorim: Uma delas foi logo quando eu saí da faculdade. Eu trabalhei numa agência de marketing promocional, era coordenadora de eventos e foi me solicitado que eu levasse duas modelos, era época de Copa do Mundo, foi me solicitado que eu levasse duas modelos para o Senado, para um evento. Não lembro o mote do evento. Agora. Mas ia ter uma palestra, uma reunião com senadores e homens importantes e eu deveria levar essas duas moças e lá iriam me explicar o que elas iam fazer.
[00:23:57:15 – 00:24:37:06]
Tatiana Amorim: E eu apenas tinha que vesti-las e leva-las. Quando nós vimos as roupas que elas teriam que ir para o evento. Era época de julho, faz frio e era de manhã cedo. Era um, sabe sinquiní, aquela calcinha de biquíni bem larga, uma dessa branca e uma babylook assim de um uniforme do Brasil. E aí as moças ficaram constrangidas, não queriam e eu, eu lembro, até cheguei a falar com a supervisora e ela falou não tem que ser com essa roupa.
[00:24:37:08 – 00:25:12:08]
Tatiana Amorim: E acabou que convenci as moças. Elas foram. Eu não lembro bem se elas chegaram aí ou se elas chegaram lá de legging, mas enfim, era uma roupa minúscula que elas tinham que ir para o ambiente. Levei. Chegamos no senado, fomos até o auditório que aconteceu o evento, elas teriam que ficar ali recepcionando os aqueles todos homens engravatados e só tinham homens e depois pediram que elas batessem bola, batessem bola, sabe?
[00:25:12:08 – 00:26:02:23]
Tatiana Amorim: uma chutando para outra, sem duas moças lindas e elas extremamente constrangidas para receber ali uma diária de 80 reais, né? E eu ficando constrangida também. Mas até como disse a Bia, eu não tinha ferramentas para nem para protege-las, nem para falar alguma coisa. Eu sabia que a situação era estranha, esquisita, ofensiva, mas não me senti acuada. Eu sei que elas também se sentiram acuadas e no final do evento, aqueles homens todos saindo e entregando cartões de visita não só para as moças, mas para mim também e pedindo que o eu vou ficar mais três dias em Brasília, me procura.
[00:26:03:00 – 00:26:34:04]
Tatiana Amorim: Então, para falar um português bem claro, não só as moças, nós três fomos tratadas ali como, mulheres que estão em busca de de algo que não seja profissional, do que a gente estava fazendo ali, né? E essa foi uma situação bem difícil e até hoje eu penso nessas duas meninas. Eu lembro da fisionomia delas perfeitamente. E eu tenho muito pesar por sabe, ter insistido por elas terem participado daquela situação.
[00:26:34:06 – 00:27:07:00]
Tatiana Amorim: Hoje eu entendo o que aconteceu ali na época eu fiquei aquele sentimento estranho, mas que a gente não sabe dizer o que que é, né? E foi isso. Eu acho que esse foi o evento mais constrangedor. Aconteceram outros. Em São Paulo, com professores que aproveitavam da sua posição de superioridade. Assim, vamos dizer, pelo menos era como eles se enxergam ou se enxergavam.
[00:27:07:00 – 00:27:28:12]
Tatiana Amorim: Não sei. E por incrível que pareça, cortem depois se vocês acharem melhor. Mas assim que a Bia falou da questão de quando ela entrou na universidade particular para trabalhar e que ela era muito jovem e sentiu um certo paternalismo.
[00:27:28:14 – 00:27:58:10]
Tatiana Amorim: Quando eu cheguei, essa é a segunda vez que eu sou professora substituta aqui na FAC. A primeira vez foi em 2017 e na comunicação organizacional, que também é um campo tomado por mulheres, mas dessa vez aqui na FAC. Alguns professores usaram desse paternalismo comigo e eu me senti mal. Eu me senti mal, mas não dei resposta por causa da minha posição e me arrependi muito de não ter feito nada.
[00:27:58:12 – 00:28:26:23]
Tatiana Amorim: E agora não adianta mais. Mas me arrependi porque a gente para e pensa poxa, eu sou professora substituta, mas eu estou na mesma posição, eu tenho os mesmos títulos, eu tenho experiência profissional porque esse homem acha que pode me ensinar como dar aula, né? Algo que que eu tenho especialização, já dei aula, tenho conhecimento, faço cursos. Acabei de terminar mais uma pós-graduação em Marketing Digital.
[00:28:27:00 – 00:28:52:06]
Tatiana Amorim: Como essas pessoas diminuem a gente e a gente meio que fica ali encolhida e só um bom tempo depois que a gente vai cair a ficha Nossa, eu devia ter feito, até pelo bem das próximas.
Ana Clara: E é difícil, né? Porque passar por essas situações é sempre aquela coisa, né? O agressor provavelmente nem lembra disso e desculpa.
[00:28:52:08 – 00:29:17:16]
Ana Clara: Nós, como mulheres, vamos ficar ressoando isso a nossa cabeça para sempre, se culpando, falando Nossa, devia ter feito alguma coisa, mesmo que no momento não coubesse ou não soubesse o que fazer. E é sempre muito silenciador passar por essas situações igual. Reforçando o que a professora Beatriz falou, a comunicação tem um papel muito importante na sociedade. Não é uma mesa de bar, não é uma conversa entre amigas.
[00:29:17:16 – 00:29:44:09]
Ana Clara: A gente está falando para um público grande. Esta foi forma pro Brasil, para o mundo e ficar reforçando as coisas de mulher. E o lugar de mulher é na cozinha, é o lugar de mulher sendo, é bonita jogando bola ali para agradar homem é muito pesado. E pensando nisso, a gente queria também saber como vocês enxergam uma mudança assim na presença das mulheres no campo acadêmico e também na indústria da publicidade?
[00:29:44:09 – 00:30:09:24]
Ana Clara: E como isso pode afetar? Não pode. Mas como isso realmente afeta a sociedade? Porque a gente sabe que tendo mulheres em locais, mas a gente poder mesmo, a gente sabe que talvez essas situações não aconteçam mais. Eu espero.
Laís Apolinário: Pessoal, reforçando um pouquinho, a gente está falando quando a professora Tati traz essa toda, essa situação. A gente está falando de um lugar que reflete o Brasil inteiro, né?
[00:30:10:01 – 00:30:34:09]
Laís Apolinário: E onde ela se sente acuada e se a gente for falar com todas as mulheres, a gente sabe que em algum momento elas passaram por alguma situação traumática, independente da idade, da profissão, onde tava, o momento da vida vai passar por uma situação traumática em relação ao fato de ser mulher. É que nem a Ana trouxe para a gente.
[00:30:34:11 – 00:31:11:08]
Laís Apolinário: A gente fala da conversa de bar, a comunicação fazendo esse movimento de refletir a sociedade e retornar para ela exatamente um pensamento que está agindo ali nas pessoas. Beatriz Beraldo: Eu tenho. Eu tenho utopias. E eu acho que isso é próprio de professor, de acreditar numa educação transformadora, no movimento que nos leva a uma reflexão e, portanto, no futuro não tão distante, há ações diferentes daquilo que a gente pratica no contemporâneo.
[00:31:11:13 – 00:31:51:22]
Beatriz Beraldo: Então me parece que a publicidade tem um lugar privilegiado para assentar essas questões. E para isso, é claro, a gente precisa da presença de mulheres discutindo essas questões no ambiente das agências, o papel da publicidade, ele é muito importante. E aí assim, eu não tenho nenhuma vergonha de me assumir muito publicitária. Eu gosto de publicidade. Eu entendo a publicidade como um discurso muito capaz de capilarização, de espalhar discursos e de ser lembrado então, por isso mesmo, muito poderoso.
[00:31:51:24 – 00:32:18:11]
Beatriz Beraldo: E pra mim é muito importante que as mulheres estejam dizendo que a publicidade deve veicular, que a publicidade deve dizer, ainda que a gente saiba que é um discurso hegemônico, ainda que a gente saiba que é um discurso baseado em estereótipos, esse é um fato. A gente comunica em meios de comunicação, de massa. Então a gente tem que atingir uma média e, portanto, acaba incorrendo nos estereótipos.
[00:32:18:13 – 00:33:00:19]
Beatriz Beraldo: Mas ainda assim, as mulheres conseguem, nesses lugares brechas. Isso é, não sou só eu que penso assim. Michelle Perrot, historiadora da história das mulheres, pensa que a nossa atuação sempre aconteceu nas brechas, ou seja, construindo esses espaços e, portanto, rompendo com aquilo que está como status quo. E isso para mim ficou bastante evidente nessa pesquisa das bicicletas, uma vez que as bicicletas, para serem utilizadas pelo público feminino, precisavam engendrar mudanças de ideias antes mesmo da mudança de mobilidade que ela que o próprio veículo proporcionava.
[00:33:00:21 – 00:33:29:04]
Beatriz Beraldo: Ideias, como mulheres poderiam usar em calças, mulheres poderem usar, frequentar o espaço público, andar desacompanhadas, deixar de usar aquelas anáguas, enfim, poderem ter um bem próprio que seria a sua própria bicicleta, uma série de fazer exercício físico, enfim, são muitas as questões levantadas a partir desse bem de consumo e a publicidade ou incipiente publicidade gerada no seu entorno.
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Beatriz Beraldo: Isso me parece muito uma lente muito interessante para a gente olhar como a publicidade pode atuar numa movimentação. Não vou dizer de mudança, de revolução, porque eu não acredito nisso num espaço de tempo, de uma vida, Mas pelo menos num novo olhar sobre determinadas pautas, determinadas questões. A gente vive numa cultura autoproclamada. A cultura do consumo, mote lá da ESPM, como Tati sabe, também é sociedade de consumo, cultura de consumo.
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Beatriz Beraldo: E é pouco provável que alguma ideia prospere numa sociedade autoproclamada a sociedade de consumo, sem considerar o discurso publicitário ou, ao contrário, desconsiderando o discurso publicitário. Nesse sentido, publicidades como a que analisei do Itaú recentemente, ou publicidades que jogam com esse lugar da mulher hoje no contemporâneo, a partir de olhares de mulheres publicitárias que estão pensando o que vai ser dito na publicidade me parece um espaço muito importante que a gente tem que ocupar, que a gente tem que levar essas questões para lá, porque elas vão circular.
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Beatriz Beraldo: Nem todo mundo abriu conta no Itaú, mas todo mundo viu o anúncio porque ele era patrocinador da seleção de futebol. Então, assim a gente enxergar essas brechas. A gente, recentemente, a propósito das Olimpíadas, teve aí espaços publicitários que vão se abrir para as mulheres campeãs e elas vão estar lá representando. Recentemente também, aí, a propósito, depois vocês podem encaixar isso no melhor momento, mas dos projetos que participamos, houve um momento ali, com as dificuldades da instituição privada, que eu achei que eu fosse abandonar a carreira acadêmica.
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Beatriz Beraldo: E eu comecei a me apresentar de novo para o mercado e as oportunidades que vieram, felizmente, foram nesse sentido. Eu fiz uma consultoria para uma empresa de fraldas geriátricas que ia lançar uma calcinha absorvente para quem tem incontinência urinária. Então era para o público feminino e precisava um monte de publicitários homens falar com o público feminino.
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Beatriz Beraldo: Então a gente montou meio que um workshop para eles aprenderem os do’s and don’ts do discurso publicitário para as mulheres, porque você foi bonito de ver a agência assumindo que os seus homens não conseguiriam falar com as mulheres se não tivessem o mínimo de discussão sobre o assunto. E o outro projeto que eu participei, alerta pavulagem, foi com a Riachuelo, num projeto chamado Inspire se, que era com as atletas olímpicas.
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Beatriz Beraldo: E aí falando sobre os atravessamentos de ser mulher e atleta olímpico até hoje, a Rebeca Andrade é patrocinada pela Riachuelo, tem uma linha inclusive esportiva, assinada por ela na Riachuelo. Então mostrar assim que não é só falar, é estar e ocupar. Não existe espaço vazio. Se a gente não tiver lá alguém, vai estar lá. Quem vai estar? Os homens que sempre estiveram em dia e nas brechas, aos pouquinhos.
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Beatriz Beraldo: Mas ir conquistando esses espaços e mostrando que não tem retrocesso, ou pelo menos a gente não vai aceitar os retrocessos. É ali que a gente deveria estar, é ali que nós vamos ficar e desculpe, eu estou me alongando, eu sei, mas é um aspecto que, muito embora a gente condene a cultura do consumo e a enxergue com todos os se nãos que são necessários e enfim, a discussão, ela não pode ter só uma abordagem que eu apresento é diversa, mas não necessariamente antagônica, que o consumo abriu essa brecha para as mulheres, porque o consumo sempre explorou com a gravidade da palavra, mesmo a figura feminina no shortinho, na venda e ou seja, a grande irmã, o
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Beatriz Beraldo: Big Brother, a big sister, ela está nos anúncios. Todos os anos tinham mulheres olhando para você e esse olhar de volta para as mulheres e as mulheres, já que eu estou aqui, eu vou usar esse espaço. Isso em alguma medida deu um lugar na ainda que é discutível como se chegou lá. A gente ocupou e agora ocupando, podemos refletir sobre esse espaço.
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Beatriz Beraldo: E podemos, do lado de cá da produção da agência, do pensamento acadêmico, refletir sobre como ocupar melhor esses espaços. Eu acho que tem aí uma potência e eu gosto de pensar que a publicidade não só vende produtos. Isso é muito pouco. A publicidade faz muito mais.
Tatiana Amorim: É, de fato A gente precisa pensar mesmo que o discurso publicitário ou o discurso da comunicação como um todo não vai ser um discurso diverso que fale com diversidade para a diversidade,
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Tatiana Amorim: se essa diversidade não tiver representada nos espaços de produção. E como vocês ressaltaram aqui, a gente está na sociedade do consumo, na sociedade da informação, né? E Roger Silverstone no livro dele, Por que estudar a mídia? Ele coloca uma frasezinha simples assim: é impossível escapar a presença, a representação da mídia. Então, é quando a gente fala de profissionais da publicidade, do jornalismo, comorg, de audiovisual,
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Tatiana Amorim: a gente está falando de pessoas que não e que têm a capacidade, um poder maravilhoso nas mãos de manipular todo mundo. Não vamos esquecer essa história de manipulação, mas são pessoas, são profissionais que trabalham com ferramentas que são capazes sim de influenciar outras pessoas. Toda uma sociedade, porque o consumo ou a publicidade caminham ali de mãos dadas e por isso a importância das mulheres ocuparem esses espaços e levarem essa visão feminina.
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Tatiana Amorim: Se a gente olhar um pouquinho para trás, gente, a gente vai olhar para propagandas de cerveja, por exemplo, né? Que cara! O tanto que já foram estudadas era sempre a mulher gostosona servindo um homem, né? E vocês percebem que isso mudou? Eu percebo uma mudança. A gente já teve aí campanhas falando do dia delas, com mulheres tomando a cerveja e não servindo a cerveja, né?
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Tatiana Amorim: E isso é uma mudança positiva. Poxa, professora, mas isso é pouca coisa. E eu gostaria sim de entrar com uma bicuda arrebentando a porta e falando não, vocês não vão mais colocar discursos machistas em mídia nenhuma, Mas acho que se eu fizer isso, vou me retirar da convivência social. Então a gente tem que ir fazendo o que a gente alcança aos poucos. E, outra questão, por exemplo, como eu falei para vocês no doutorado, eu pesquisei sobre o discurso jornalístico em relação a Dilma Rousseff e o discurso do jornal Correio Braziliense.
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Tatiana Amorim: E nas minhas conclusões, eu simplesmente identifiquei que a representação de Dilma Rousseff pelo jornal foi uma representação extremamente sexista, machista, misógina, do começo ao fim, né? E aí, posteriormente, eu vi um retorno da Dilma Rousseff para a mídia na época das eleições, em que nós elegemos o Lula, o que aconteceu? O Lula começou a levar a Dilma para os comícios e Dilma começou a meio que voltou a ser uma personagem relevante ali.
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Tatiana Amorim: E eu falei cara, vou olhar como é que o Correio está mostrando isso, porque a minha, a minha tese olhou até para 2016 e a gente estava em 22. Vamos ver o que mudou. Sabe o que é que mudou? Nada. Não mudou nada. As notícias continuavam tratando Dilma como pé de árvore. Ali que ela ali e não ali, seria a mesma coisa.
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Tatiana Amorim: E isso me deixou triste. Sabe porque é assim? Eu poderia tentar enfiar na cabeça daqueles jornalistas, né, Algo diferente, cara. Essa parte eu não consigo chegar lá na redação e fazer isso, abrir a cabeça das pessoas é tentar enfiar alguma coisa dentro. Mas aqui, no ambiente universitário, com várias alunas maravilhosas e que são de uma geração totalmente diferente da minha, que são uma geração que fala mesmo, né?
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Tatiana Amorim: que diz a que veio. Com essas alunas eu consigo conversar, né? E inclusive com os alunos também. E não mudar a cabeça dessas pessoas, porque ninguém muda a cabeça de ninguém, mas estimular né? Trazer à luz conhecimentos, fatos que deixem essas mulheres estimuladas a ocupar cada vez mais esses espaços, né? Os espaços da mídia, os espaços acadêmicos dentro do campo da comunicação.
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Tatiana Amorim: Porque só assim a gente vai conseguir esse discurso, né, que reflete a diversidade.
Laís Apolinário: Aí a gente sai daqui bem inspirada com a fala de vocês, a gente. Nossa, adorei quando a professora falou meter a bicuda mesmo porque realmente é um tópico sensível que atinge a todas nós e todo mundo tá sentado aqui que está aqui, entende e percebe.
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Laís Apolinário: Tem toda essa percepção do mundo. É uma coisa que me pega bastante. É o fato de, por exemplo, no caso de Dilma, ser uma figura histórica representativa, mas ser retratada diminuída por ser mulher. Porque assim a gente tem os homens aí fazendo várias burradas, mas nenhum sendo, tipo você é um péssimo pai, você não tratado no jornal ou coisas do tipo.
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Laís Apolinário: Por ele ser homem, a gente percebe esse ataque em relação às mulheres. Mas para fechar o nosso podcast de hoje, inclusive, muito obrigada, arrepiei várias vezes, eu queria que vocês deixassem um recado para as futuras gerações de estudantes e profissionais da área, mulheres, um recado assim tocar no coração mesmo e inspirar.
Tatiana Amorim: Bom. Eu acho que algo que é diferente da minha geração para essa geração que está nas cadeiras universitárias hoje é que essas estudantes não se calam, né?
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Tatiana Amorim: Elas falam mesmo, vocês falam mesmo e eu aprendo a falar com vocês muitas vezes. Então assim, continuem falando e se for preciso, metam o pé na porta mesmo para poder ocupar o espaço que é de vocês. Não existe ninguém superior a vocês.
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Tatiana Amorim: Por motivo algum, ainda mais porque simplesmente é um homem, né? E vamos entender direitinho o feminismo. Ele não fala de uma disputa entre homens e mulheres, mas fala de equidade, de oportunidades iguais, né? Então, o que é totalmente o contrário do machismo. Porque o machismo é a imposição do poder masculino sobre as sobre as mulheres.
[00:46:25:01 – 00:46:44:17]
Tatiana Amorim: Não é isso, não é disso que a gente está falando. A gente está falando de igualdade mesmo. Então lutem, botem a boca no mundo, metam o pé na porta e lutem por essa igualdade na academia, no mercado de trabalho. Não deixem ninguém calar vocês.
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Beatriz Beraldo: Bom, muito bom, muito inspirador, muito bom. Quero exaltar também o podcast e a ideia é ter podido aqui aprender e conhecer um pouco mais da história da Tati, amiga, colega e amiga querida aqui do colegiado. A propósito do que ela acabou de dizer sobre a igualdade, se ela é uma palavra pela qual não uma ideia, melhor dizendo, pela qual a gente tem que lutar, significa que ela não está dada.
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Beatriz Beraldo: Então a luta, ela é permanente. Ela é diária, ela é pequena e muitas vezes micropolítica. Outras vezes ela precisa de uma voz mais alta desse chute na porta que a gente falava, mas ela é contínua. É a única luta que a gente perde é aquela que a gente desiste. Então a gente tem que seguir os 20 anos de comemoração.
[00:47:41:07 – 00:48:18:10]
Beatriz Beraldo: Eles nos mostram alguns avanços dos quais a gente tem que celebrar e nos alimentar deles para continuar lutando e ocupando os espaços, porque, mais uma vez, não existe espaço vazio e esses espaços serão ocupados. Eu gostaria que por vocês, nossas meninas da publicidade.
Ana Clara: Para finalizar, eu gosto de uma associação que uma professora de comorg falava que a cultura é como um trem que não tem como você parar esse trem e fazer ele andar para trás.
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Ana Clara: Ele pode desacelerar, mas ele vai sempre para frente. Então isso aí um discurso para motivar todo mundo, e acreditar na mudança, porque só acreditando que as coisas acontecem. A gente queria agradecer demais pela entrevista, professoras. Beatriz Tatiana, Foi um prazer enorme receber vocês aqui no terceiro episódio de A Publi é Delas. O Labiar chega ao fim e se você gostou, não deixe de compartilhar esse conteúdo nas suas redes.
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Ana Clara: Marcar a gente @labpp_unb e claro, participar do Colab, evento comemorativo dos 20 anos do Laboratório de Publicidade e Propaganda da Faculdade de Comunicação da Unimep, nos dias 30 a 31 de outubro e 1 de novembro, na própria FAC você encontra a programação completa no nosso Instagram.
Laís Apolinário: O episódio foi gravado no laboratório de áudio da Faculdade de Comunicação da UnB no dia 15 de agosto.
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Laís Apolinário: O roteiro foi elaborado por Ana Clara Alves, Evelyn Canuto e Laís Apolinário, com edição de Laís Apolinário.
[00:49:28:02 – 00:49:39:18]
[Vinheta de jazz animada com efeitos de rádio no final]
Locutor: Laboratório de Publicidade e Propaganda. Criatividade em todos os sentidos.